São muitos os valores, legados da nossa tradição ocidental, em que se pensa muito por força das circunstâncias, mas de que os políticos nos falam pouco.
Falam-nos muito de outros, por força da conveniência, mas em que se pensa menos. O primado da Lei, o respeito pelos direitos, o valor da liberdade e da paz são legados em que todos falam. Os valores inerentes aos deveres, a fidelidade aos compromissos, o respeito pelas instituições, são legados da nossa matriz cultural de que nos falam pouco.
Todos os dias se multiplicam exemplos de que esses legados andam afastados do pensamento e da ação política. Tudo muito equívoco no domínio dos princípios, mas muito coerente no domínio dos interesses. É a velha tradição maquiavélica a ajudar os novos príncipes, que não se embaraçam com a ética na satisfação dos seus interesses.
A preocupação está sempre presente na estética, na compostura, na imagem, na foto, no momento mediático, na palavra fácil e na promessa deferida no tempo. Não há problemas de consciência ética, tão só de eficácia. O poder usado em benefício de quem o tem. Sem missão que o transcenda, vive da oportunidade e da conveniência.
Onde está o poder o legado de Maquiavel campeia desassombrado, pondo e dispondo. Sem princípios, o poder está sempre na sua casa.
Assim os novos príncipes sentem-se desinibidos para se libertarem de todos os compromissos éticos, cuidam dos seus interesses pessoais e já sem pudor, também dos da família, como se a coisa pública lhes pertencesse, por direito.
Tudo isto é do foro da amorosidade sem nenhuma ligação necessária com a política e o Estado.
* Antigo presidente da Câmara de Trancoso, ex-líder da Distrital da Guarda do PSD e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD