Por mais pequeno que seja um partido político, tendo representação parlamentar, consegue sempre um espaço mediático e uma presença pública de âmbito nacional, que de outra forma, seria extremamente difícil ou mesmo quase impossível.
Um partido político possui uma estrutura de base, uma determinada hierarquia e mecanismos de comunicação, alguns dos quais consagrados até na Constituição da República, como é o caso do direito a tempo de antena, que possibilitam um certo grau de participação na sociedade portuguesa. A conjugação destes e outros factores, conduz à existência de uma rede de contactos, formais e informais, que no mínimo facilitam a gestão de influências com vista à obtenção de proveitos políticos para a causa que defendem.
Um movimento independente, não obstante todo o mérito e legitimidade que possa ter, dificilmente consegue ombrear com este “status quo”. É assim que está desenhado o edifício político em Portugal e pese embora algumas alterações legislativas que ocorreram no passado recente, a realidade mostra-nos que é muito complicado um movimento independente afirmar-se em pé de igualdade com um partido político.
Este cenário e tão mais evidente quanto mais reduzida for a população servida ou quanto menor for o peso económico e político do território de origem. Por exemplo, o movimento independente liderado por Rui Moreira, presidente da autarquia do Porto, só tem a visibilidade que lhe conhecemos, pelo facto de representar a segunda mais importante cidade portuguesa e uma mancha urbana com várias centenas de milhar de habitantes. Por esse facto, tem um poder negocial diferente e um peso mediático mais expressivo. Se o mesmo Rui Moreira estivesse à frente de uma pequena vila ou cidade, por muito que se esforçasse e tivesse argumentos para tal, jamais conseguiria uma centésima parte da exposição que tem.
Transpondo este exemplo para a Guarda, o movimento independente que ganhou as autárquicas de 2021, conseguiu o feito num território de baixa densidade, com perto de 40.000 habitantes e impacto económico reduzido. Já que mais razões não existissem, estas bastariam para coartar o seu alcance e magistratura de influência.
No entanto, para além dos constrangimentos apontados, a vontade e dinamismo de quem lidera o movimento, radica numa passividade amorfa, que incrementa ainda mais os condicionalismos a que está sujeito.
Cito a título de exemplo, entre muitos que poderia dar, a passividade com que tem sido tratado o dossier do porto-seco. Sabendo que a Infraestruturas de Portugal (IP) ocupa a zona contígua à estação da CP, fazendo desse espaço um estaleiro e tendo conhecimento que tal facto faz atrasar toda e qualquer obra de ampliação dos ramais ferroviários que atravessam aquela área e por arrastamento todo o porto-seco, não era para cavalgar a ainda que pequena magistratura de influência para convencer a IP a deslocalizar o estaleiro para outro sítio de modo a possibilitar algum avanço na obra do porto-seco? Tenho a certeza que toda a Guarda, da direita à esquerda o ajudaria nesse intento, pois é de extrema importância para o nosso futuro.
Mas para isso, é preciso proactividade e visão estratégica e como os guardenses já tiveram oportunidade de constatar, essas características andam um bocado arredadas do nosso edil.
Se fossem festas e romarias, provavelmente assistiríamos a algum ímpeto, mas como se trata de uma obra de futuro, se calhar é melhor deixar estar…
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos.