Macerando amor

Escrito por Diogo Cabrita

“Amar macerado é exercer compromisso com o afastamento. Não me quer e doi. Não me deseja e doi. Mas amor é sair de cena, é desbloquear os caminhos, é abrir a porta e segurá-la com a mão. “

Um tipo deve ter por certo que o amor não é recíproco. Amor é como a dor, única e egoísta. Não é perfume, nem escorre dos telhados, nem se pavoneia entre as flores. Amor é uma empatia, é uma forma intensa de gostar, um mecanismo inexplicável como a sorte. O amor surge e não tem garantias, não tem certezas, não tem pilares, não tem fronteiras. Podes amar e não ser amado. Podes amar e descobrir a rejeição. Mas tu amas! Pronto!
Amar macerado é exercer compromisso com o afastamento. Não me quer e doi. Não me deseja e doi. Mas amor é sair de cena, é desbloquear os caminhos, é abrir a porta e segurá-la com a mão. Deixa voar o pássaro que não é teu. A liberdade e o respeito fazem parte do amor. Sai só. Sai como chegaste, com a tua dor e a tua memória. Sai, e pronto!
O amor doente é possessivo, alimenta o ciúme, vem dos machos que se pelejam, vem das bestas que se corneiam pelas fêmeas na pradaria. Amor é uma sorte, é uma dor, é uma festa, é uma beleza. O amor completo é biunívoco, é feito de dois que formam um. Os outros são amor também, são o amor de alguém, mas é melhor soltar, abrir e voar. Tive um amigo que tinha um coração enorme e amava muita gente. Também não é fácil assim.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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