“Libertação animal” é um livro com a importância de “O Capital” de Karl Marx e mudou o mundo de forma subtil. Como sempre, não carece de estarmos de acordo, mas é um livro fronteira. Por incrível que pareça nunca foi editado em Portugal por portugueses.
A comida é um problema onde tudo se interliga e por essa razão os dois textos que acabo de comprar são uma fortuna na minha biblioteca. “Electra”, da Fundação EDP, é um marco cultural nas publicações portuguesas. Esta é sobre o que comemos e como comemos e o que é a comida em nós e para nós. Inevitavelmente teremos de falar dos animais como comida. A refeição com ou sem proteína animal. Vamos dar à questão das produções massificadas, insensíveis, onde criamos comida que eventualmente será sensível e isso obriga a reformar o pensamento sobre o que vai para a mesa e o que se leva à boca. Um ponto de embate na cultura. Esquerda e direita modernas passam por aqui também. A obesidade será em breve um comportamento de conservador. Comer carne será ofensivo para algumas opções da libertação animal. A construção murada de velhos conceitos de esquerda e direita são apenas para as trincheiras dos interesses instalados. Muito sindicalismo é emprego. Muita carreira é encosto político e essa gente precisa dos rótulos para sobreviver. A vida decorre além dos interesses e por isso há conceitos que brotam e separam, fraturam famílias e sociedades como escravatura, racismo, droga livre. Hoje, a comida, o exercício, a poligamia, a liberdade de não se vacinar, a tourada, o direito dos animais, a relação homem/bichos, são coisas fraturantes. A definição dos campos está a fazer-se na sociedade.
Libertação de conceitos
A vida decorre além dos interesses e por isso há conceitos que brotam e separam, fraturam famílias e sociedades como escravatura, racismo, droga livre.