Como tão deliciosamente escreveu Miguel Esteves Cardoso (MEC), os 49 anos de democracia são a melhor resposta aos 48 anos de ditadura. E ponto! Com isto está tudo dito. Mas podemos querer mais explicações. Especialmente os mais jovens. Os que nasceram depois do 25 de Abril e por isso nasceram e viveram sempre em democracia e consideram, em si mesmo, um arcaísmo do antigamente falar da própria Revolução dos Cravos – a melhor homenagem que se pode fazer ao 25 de Abril é respirar a liberdade e a democracia sem ter de olhar para trás, para recordações de má memória, para tempos sombrios e assustadores, para 48 anos de ditadura salazarista.
Mas devemos recordar. Temos de olhar para trás e comemorar, porque a liberdade e a democracia não são um dado adquirido. São uma conquista que se não for sempre regada pode perecer. E os valores afirmados e conquistados em Abril são diariamente reforçados quando discutidos ou questionados, porque cada vez que alguém põe em causa esses valores a sua relevância fica mais evidente e fortalecida.
A Revolução dos Cravos foi um marco notável, admirável, de que temos de estar sempre a falar, que temos sempre de comemorar, não apenas para não esquecer, mas para chamar a atenção das novas gerações que a mudança conquistada em abril de 1974 é determinante para respirarmos, para vivermos e confiarmos no futuro. Um futuro em que todas as conquistas de Abril têm sempre de ser notadas, partilhadas e celebradas… Porque é assim que se combate o fascismo, porque agora sabemos que já temos mais anos de liberdade e democracia do que houve de fascismo. E isso faz toda a diferença. Como perguntava o MEC, «a liberdade não é tanta como desejaríamos?», sem dúvida, mas esse direito de querer mais ou de sermos contra ou de não gostarmos do regime ou de sermos contra o regime… tudo isso é precisamente um direito garantido pela liberdade e pela democracia conquistada.
E como vimos na Assembleia da República, na forma como o Chega se comportou enquanto o presidente do Brasil discursava, os devaneios populistas vão ganhando militantes e podem ser cada vez mais ruidosos, radicais e dominadores. Podemos não concordar com Lula, mas temos de receber com dignidade e civilidade o presidente de outro Estado. E temos de perceber que a liberdade também é permitir que o outro pense de forma diferente de nós e respeitar essa diferença. E a ameaça populista combate-se com a liberdade de opinião, com a liberdade de expressão, com a longevidade da democracia e com o respirar a garantia da liberdade e da democracia.
Precisamente porque não devemos esquecer os 48 anos de obscurantismo salazarista em que o país viveu, estamos a preparar no contexto dos 75 anos de emissões regulares da Rádio Altitude um Sarau Cultural, no TMG, no próximo sábado, dia 29. Recordando que a Rádio Altitude foi a única instituição no distrito da Guarda que foi ocupada pelo MFA na manhã de 25 de Abril de 1974, “Abril no Altitude – a Revolução passou pela Rádio”, irá ter uma pequena tertúlia sobre o contexto da estação emissora na vida coletiva, música, ballet e poesia, muita poesia.
Liberdade… Sempre!
«Abril no Altitude – a Revolução passou pela Rádio, sábado, no TMG»