Liberal versus estatal

Escrito por Diogo Cabrita

“Uma das grandes batalhas travadas pelo Estado contra a liberdade foi a luta antitabágica. Era urgente e necessário reduzir o consumo de tabaco e sobretudo retirar o poder do fumador sobre o não fumador. “

Uma das grandes batalhas travadas pelo Estado contra a liberdade foi a luta antitabágica. Era urgente e necessário reduzir o consumo de tabaco e sobretudo retirar o poder do fumador sobre o não fumador.
Fumava-se em todo o lado sem restrições. Íamos de avião, de comboio, de carro e lá estavam aqueles palitos quentes a encher a roupa de cheiro forte. Não dava para vestir a mesma roupa depois de uma noitada. Trazia tabaco da discoteca, do restaurante, da sala de chá, da esplanada. O combate fez-se contra a liberdade, o direito de qualquer um fumar onde bem quisesse. Mas esta decisão foi uma benesse para todos e trouxe a todos uma imposição do Estado em favor de uma vida melhor. Penso o mesmo de muitas vacinas que considero que provam à saciedade ter rompido ciclos de doença, ter reduzido a mortalidade e as comorbilidades associadas a elas de modo drástico, permanente e persistente.
O Estado, como criador de uma vida mais abrangente e protegida para todos os cidadãos, reflete-se nas políticas de saúde pública, nas opções de uma água pública salubre, potável, transmissora até de algumas correções minerais. O Estado contra a liberdade não me indigna quando temos a perceção de que a comunidade ganha de modo indiscutível. Sobra a liberdade de não se vacinar, de não beber água pública, de ir fumar no seu jardim ou dentro de sua casa. Este é o padrão da discussão liberal versus estatal. Também defendo que o Estado se deve sobrepor aos pais em defesa das crianças, ou em defesa dos ofendidos em relações doentes.
As questões prendem-se com os níveis de competência e transparência. Aqui surge o problema seguinte que é o direito à privacidade. Como consigo privacidade e defendo transparência? Sobretudo quando o mundo se expõe de modo opinativo e descarado e sem pudor nas redes sociais e também na projeção sonora das suas conversas ao telemóvel em qualquer lugar. Hoje o ruído das telecomunicações impera nas salas de estar, nos autocarros, nas esplanadas, nos autocarros. Como o fumo de outrora, os utilizadores de telemóvel sobrepõem os seus direitos aos que preferem o silêncio. O Estado um dia terá de intervir sobre este assunto e lá surgirão as revoltas, as opiniões voluptuosas contra. Em boa verdade o problema é da deselegância das pessoas, da sua apoteose, do eu que sempre as leva a exagerar em desprimor dos outros.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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