LGBTI

Escrito por Albino Bárbara

«As bandeiras arco-íris foram exibidas e nem os governos mais retrógrados conseguiram proibir estas manifestações»

Em 28 de junho de 1969, a polícia de Nova Iorque invadiu o bar Stonewall, no bairro de Greenwich Village, em pleno coração de Manhattan, local de concentração da comunidade gay, tendo agredido de forma extremamente violenta todos os seus clientes só por terem opção sexual diferente. Uma ação apoiada por legislação altamente estúpida e repressiva. Após isso e ali mesmo, decidiram juntar forças e lutar contra um sistema injusto, resistindo à violência policial. No ano seguinte instituíram o 28 de junho como o Dia Internacional do Orgulho LGBTI (Lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexual).

Em 1984, Prince, in “I would die U4”, num provocante desafio à intolerância, cantava «Não sou mulher, não sou homem, sou algo que nunca vais entender». Claro que estes dois espíritos de alma desempenham um misto onde ambos os géneros se misturam num conceito que é perfeitamente percetível.

Na semana passada o orgulho gay regressou às ruas para defender a liberdade de orientação sexual, identidade e expressão de género. As bandeiras arco-íris foram exibidas e nem os governos mais retrógrados conseguiram proibir estas manifestações.

A discussão tomou forma logo após o executivo húngaro ter aprovado uma lei que proíbe a representação da homo e transexualidade em espaços públicos. O assunto foi levado ao mais alto patamar com a aprovação de um documento de repúdio assinado pela grande maioria dos Estados-Membros da UE, tendo o primeiro-ministro holandês dito ao seu congénere húngaro que deveria respeitar a comunidade gay ou então sair da União Europeia, isto sem esquecer a arrojada intervenção de Xavier Bettel, primeiro-ministro do Luxemburgo: «Eu sou gay. Há muitos jovens que não conseguem viver com isso e cometem suicídio. Tu dás força à estigmatização e à descriminação dos jovens LGBT e isso é terrível».

Já a presidente Von Der Leyen acrescentou: «A lei húngara é uma vergonha».

O Fidesz, partido fascizante que governa a Hungria, na sua mais desbravada hipocrisia, aprovou esta legislação altamente discriminatória, elaborada por Jószef Szájer, esse mesmo que esteve naquela festa em Bruxelas e se pisgou por uma caleira com droga na carteira, acabando por ser detido e posteriormente abandonou o exílio dourado de Bruxelas. Recordam-se?

Já agora, o governo polaco, de orientação política muito idêntica ao da Hungria, aprovou recentemente legislação que proíbe a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, agora que sabemos que Donald Tusk, ex-primeiro-ministro e antigo presidente do Conselho Europeu, regressa em força a fim de ser alternativa ao governo de extrema-direita.

De realçar ainda a posição assumida esta semana pelo conservador Janez Jansa, primeiro-ministro da Eslovénia, país que preside à UE, numa das suas primeiras tiradas, sem paninhos quentes, borrifando-se para o princípio de isenção, contracenando com a anterior presidência portuguesa, disse, sem papas na língua, que pretendem impor valores imaginários à Hungria. Enfim…

Relembrar apenas que a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia proíbe qualquer tipo de discriminação com base na orientação sexual.

Também por cá, a exemplo do que se passa por lá, o momento não passou despercebido. O escarro que a democracia deixou parir apresentou, na Assembleia da República, um projeto de voto congratulando-se pela aprovação da legislação húngara. Esta estratégia do partido fascista não encaixa de forma alguma no princípio constitucional: «Ninguém pode ser privilegiado ou privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça ou orientação sexual».

Os defensores dos escudos identitários, nova ordem, lei e justiça, estejam eles onde estiverem, cheguem-se pra lá ou para cá, chamem-se salvinis, órbans, kaczynskis, pens, janeses, abascais ou desventurados, têm de perceber que há regras universais que defendem a igualdade e o respeito pela dignidade de cada ser humano.

Finalmente, é salutar aceitar a diferença, encaixando aqui conceitos e vivências diversificadas num processo cultural de grande pluralidade por esse mundo fora. C’os diabos entender isto é básico. É tão simples quanto isto…

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Albino Bárbara

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