O envolvimento da comunidade em iniciativas solidárias, que podem fazer a diferença e ter bons resultados, demonstrou uma vez mais a sua eficácia e alcance. Vem isto a propósito de uma recente iniciativa que teve por objetivo “unir duas paixões: o mundo motard e a causa animal”.
Uma ideia que partiu de Marta Inácio e Vasco de Jesus, materializada no evento designado por “MotorPet – 2 rodas, 4 patas”, realizado nos dias 1 e 15 de dezembro no Canil/Gatil Municipal da Guarda; atividade que mereceu o apoio e acolhimento de Paula Tracana, médica veterinária responsável por aquela estrutura guardense de acolhimento de animais.
«Quisemos mostrar que, assim como os motards partilham valores como liberdade, companheirismo e solidariedade, também os animais do canil merecem essa oportunidade de viver livres, amados e com dignidade», explicou Marta Inácio, a propósito deste evento pensado em função das dezenas de animais que anseiam uma nova vida; animais que mereceram igualmente a atenção (para além de motards, treinadores caninos e voluntários) de um pequeno grupo com um denominador comum: a paixão pela fotografia.
«O MotorPet surgiu da vontade de dar a estes animais, que tantas vezes só conheceram o abandono, a oportunidade de experimentar essa liberdade – encontrar um lar, uma família e amor que merecem. No fundo, o elo entre nós, motards, e estes animais é exatamente esse: a busca pela liberdade». Um desafio para transmitir essa mensagem à cidade e à região.
A fotografia levou esses animais para o “exterior”, apresentando-os a diferentes escalões etários, com distintas sensibilidades e possibilidades, mas certamente incapazes de ficarem insensíveis aos olhares nostálgicos por detrás das grades dos seus abrigos…
Desse evento, com duas edições separadas por quinze dias, resultaram dezenas de fotos que a organização, e os diversos intervenientes, têm partilhado como forma de sensibilizar as pessoas para a adoção responsável destes animais, onde apesar do seu atual contexto há um brilho de esperança no dia de amanhã.
«Quero que a energia motard, combinada com a solidariedade da comunidade, crie um impacto real, trazendo famílias novas para os animais e mais visibilidade para a causa. E, claro, que todos saiam daqui com o coração mais cheio – seja por adotar ou simplesmente por apoiar», dizia-nos Marta Inácio, no final da manhã do passado dia 1 de dezembro.
Os resultados, felizmente, não se fizeram esperar, demonstrando o carinho e a humanidade das pessoas. Uma das fotos, divulgadas (de um cachorro isolado a um canto, com a tristeza vincada na sua postura e olhar, com todo um drama a ferir a sua existência e necessitando de um lar especial) teve o condão de, como comentou (numa rede social) Andreia Qoasmi Lopes, mostrar «ao mundo o seu lado mais vulnerável [desse animal]. A fotografia tornou-se a ponte que levou esta história ao coração certo, provando o poder da arte em salvar vidas». Este – escreveu ainda – «é um exemplo perfeito de como a colaboração, a solidariedade e o amor pelos animais podem mudar vidas. A adoção não é apenas um ato de amor; é um compromisso e uma oportunidade para reescrever histórias como esta». Uma foto deu ao infeliz canídeo o “passaporte” para uma nova vida, mas certamente que muitas outras divulgadas ou a divulgar transmitirão a muita gente o apelo destes animais no sentido de passem a viver num novo lar.
É enternecedor verificar a atitude de muitas pessoas, mais ou menos jovens, para quem «a compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana», como escreveu Charles Darwin. «Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento».
Há quem tenha a perceção e coração perante o sofrimento dos animais; na galeria dos bons exemplos conhecemos um jovem casal da nossa cidade que ofereceu ao “Dólar” (foi o nome que lhe deram) uma existência tão distinta daquela em que o pobre animal tinha sido mergulhado; ele, que terá sido um cão garboso e fiel companheiro, fora abandonado, sofrendo num meio desconhecido a fome, o frio, o mau trato de pessoas e outros animais de maior compleição física, sobrevivendo, apesar dos seus múltiplos ferimentos, no limiar… até que o conheceram, acolheram e adotaram. Hoje é um animal feliz, dócil, bem alimentado e cuidado, presença insubstituível, observador atento e com disponibilidade constante para fazer companhia.
Há muitas outras estórias com final feliz que poderíamos evocar, não fosse a limitação de espaço. Contudo, importa anotar que a importância desta predisposição a estarmos atentos à causa animal foi oportuna e pragmaticamente assinalada pelo MotorPet, num convite à cooperação e ao desenvolvimento de esforços conjuntos; nesta, como noutras matérias, não pode haver “quintas”, sendo fundamental o reforço de “pontes”, a convergência de contributos, meios e recursos pois eles não são infinitos.
A louvável abertura para o conhecimento do Canil/Gatil da Guarda é primordial para que cresça – e nestes últimos dias a atividade atrás mencionada teve já resultados muito positivos – o número de adoções responsáveis. Destacamos adoções responsáveis porque, convém não esquecer, os detentores de animais estão obrigados legalmente a manifestar respeito por eles e pela sua forma de ser e estar; assegurando-lhes a alimentação, a possibilidade de manifestarem o seu comportamento normal, garantindo-lhe conforto, assegurando-lhe a ausência de dor e medo. Por outro lado, e não menos importantes, há a obrigatoriedade de serem assegurados os adequados cuidados veterinários. «Os animais são seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza».
Na “Guarda, Cidade Natal”, o brilho das luzes certamente que não deixará de iluminar as boas decisões e as respostas ao expressivo apelo que vimos nos olhares de dezenas de animais: “Leva-me contigo!…”