Leonardo, o geólogo

Escrito por António Costa

Em 2019 comemoraram-se 500 anos sobre a morte do Leonardo da Vinci, por muitos considerado o maior génio da história da Humanidade. Um dos pontos altos destas comemorações é a exposição dedicada ao mestre italiano que está patente no Museu do Louvre, em Paris (termina no final deste mês). Tendo demorado 10 anos a ser concebida, a mostra procura reunir, num só espaço, as mais importantes obras do autor que estão dispersas por várias locais do globo, como sejam a “Virgem de Benois”, que se encontra no Museu Hermitage (Rússia), “São Jerónimo no deserto” ou mesmo o acervo de manuscritos que pertence à Rainha Isabel II.

Sugestão de leitura: “Leonardo Da Vinci”, de Walter Isaacson, Porto Editora, 2020

A grande paixão pelo conhecimento que caracterizou Leonardo da Vinci levou-o à observação da natureza em todos os seus aspetos – essa natureza que é uma obra-prima porque «nenhum efeito está na natureza sem motivo» – e a lançar as bases do método indutivo e experimental. As cerca de sete mil páginas cheias de anotações e de desenhos com descrições minuciosas resultantes das suas especulações proporcionam-nos uma vasta panorâmica dos seus ilimitados interesses. Estas páginas foram organizadas por quem as adquiriu e, atualmente, estão reunidas em vinte volumes, conhecidos por “códices”.

Se os seus estudos anatómicos se podem observar no “Códice Windsor” e os de pintura no “Códice Urbinate”, no “Código Atlântico”, um dos mais famosos e conservados em Milão, e no “Códice Leicester”, adquirido em 1994 por Bill Gates, seguimos os passos de Leonardo nos domínios da Geologia e da Paleontologia, em que começou praticamente do zero considerando que ignorava os conhecimentos greco-latinos e que estava constrangido pelos dogmas da Igreja, a qual durante muito tempo travou o desenvolvimento da Geologia porque os novos conhecimentos desafiavam a narrativa bíblica do dilúvio universal.

Dedicou uma atenção especial ao estudo dos fósseis: chegou a formular uma hipótese da ocorrência de grandes catástrofes geológicas no passado e rejeitou a ideia de que a presença de conchas nas montanhas fosse a prova do grande dilúvio universal. A sua teoria assentava no profundo conhecimento das leis da hidrodinâmica, que lhe permitiu teorizar sobre o movimento das ondas do mar e sobre a deslocação e o peso da água.

É interessante verificar que Leonardo transpôs algumas das observações geológicas para as suas telas: por exemplo, em “A Virgem dos Rochedos”, conservada no Louvre.

Sobre o autor

António Costa

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