Jogo patológico

“O jogo patológico carateriza-se por um comportamento de dependência da pessoa, em que o jogo deixa de ser um passatempo e passa a ser um “vício”, em que não se consegue parar de jogar, levando a problemas em diversas áreas da sua vida.”

O jogo é uma atividade de lazer prevalente em múltiplas culturas e em Portugal não é exceção. A realidade dos denominados “jogos da sorte” alterou-se com entrada na era digital, eliminou-se a maioria das barreiras existentes, sendo que o jogo passou a ir ao encontro do jogador e quem o joga maioritariamente fá-lo de forma esporádica, mas o jogo “offline” (como as raspadinhas e a lotaria) obriga o jogador a ir ao seu encontro.
Em 2021, os portugueses gastaram em média 4,1 milhões de euros, por dia, em raspadinhas (1). Mais recentemente, em 2023, identificou-se cerca de 100.000 adultos, em Portugal, com comportamentos de problemas de jogo com raspadinhas, das quais cerca de 30.000 pessoas apresentavam Perturbação de Jogo Patológico, frequentemente também relacionados outros problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade ou stress (2).
Mas, afinal, o que significa “Perturbação de Jogo Patológico”, ou, se preferirem, somente “jogo patológico”? O jogo patológico carateriza-se por um comportamento de dependência da pessoa, em que o jogo deixa de ser um passatempo e passa a ser um “vício”, em que não se consegue parar de jogar, levando a problemas em diversas áreas da sua vida. Indivíduos de todas as idades podem sofrer de perturbação de jogo patológico. À semelhança do que acontece com o abuso de substâncias, como álcool, tabaco ou drogas ilícitas, o jogador desenvolve tolerância e sofre de abstinência quando não joga, e também afeta a sua saúde, mesmo que de uma forma não tão visível como o abuso de outras substâncias.
Reconhecer sinais de alarme é importante para refletir se a forma como se joga é saudável e se não for mudar o comportamento. Sinais como:
● Pensamentos frequentes sobre o jogo (reviver ou planear jogos futuros);
● Jogar/Apostar de forma cada vez mais frequente e durante mais tempo;
● Tentar continuamente recuperar o dinheiro perdido;
● Usar o jogo como forma de lidar com problemas, ou humor deprimido/stress;
● Sentir culpa, ansiedade ou tristeza relacionados com jogar;
● Esforços repetidos e falhados para controlar, reduzir ou parar de jogar (muitas vezes associados a inquietação ou irritabilidade);
● Esconder da família e dos amigos próximos o quanto o jogo ocupa o seu dia a dia;
● Perder momentos/oportunidades importantes, profissionais/académicas ou pessoais – afeta relacionamentos com outras pessoas;

Embora o jogo seja regulado pelo Estado, ainda há um longo caminho a percorrer em relação a estratégias preventivas. A necessidade de capacitar a comunidade mantém-se para que consigamos ajudar quem mais precisa.
O primeiro passo é reconhecer o problema para que possa pedir ajuda. Se precisa de ajuda contacte o seu médico de família ou contacte diretamente as linhas de apoio especializadas, referidas a baixo:
– Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência da Guarda e Centro de Respostas Integradas da Guarda/ Equipa Técnica Especializada de Tratamento da Guarda: 271 001 100; cri.guarda@arscentro.min-saude.pt; et.guarda@arscentro.min-saude.pt
– Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
https://www.arscentro.min-saude.pt/dicad/contactos/Linha Vida – 1414;
– Jogadores Anónimos
Linha de Ajuda Geral – 962 825 750; https://www.jogadoresanonimos.pt/
– Instituto de Apoio ao Jogador
Linha ajuda – 968 230 998; https://www.iaj.pt/linha-ajuda/

(1) Dados disponibilizados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ao “Jornal de Notícias”
(2) “Quem Paga as Raspadinhas?” – estudo lançado pelo Conselho Económico e Social e desenvolvido por equipa de investigação da Universidade do Minho

* Médica interna de formação específica de Medicina Geral e Familiar na USF a Ribeirinha

NR: A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da ULS da Guarda e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo de saúde/doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, são escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética.

Sobre o autor

Inês Cabral de Melo

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