O PSD viveu uma semana das facas longas que, sejamos sinceros, é uma condição tendencialmente endémica no PSD – uma máquina de triturar líderes que, depois de Sá Carneiro, só os paternalistas Cavaco e Passos conseguiram contrariar.
Ultrapassada a crise, o partido viverá em sossego relativo até serem conhecidos os resultados das legislativas. Relativo porque europeias, regionais na Madeira e, sobretudo, o processo de seleção dos candidatos a deputados ainda poderão causar novos abanões.
Mas ao contrário do que diz Luís Montenegro, o único vencedor do abanão da passada semana não foi o PSD, mas sim Rui Rio. Por outro lado, e também contrariamente ao que disse Montenegro, houve ainda um derrotado: ele próprio. La Palice não diria melhor, mas há nuances.
Montenegro pode ter arriscado perder agora para vencer mais tarde – e até pode acontecer isso mesmo se o PSD tiver uma hecatombe nas próximas eleições gerais –, já que marcou território e se destacou de todos e muitos demais putativos aspirantes a líder. Nesta fase, e de olhos no horizonte, talvez só Passos Coelho lhe faça sombra.
Contudo, no médio prazo perdeu porque conferiu a Rio a força que lhe faltava para disputar o ciclo eleitoral de 2019 em mínimos exigíveis de unidade.
Quanto ao mais, ninguém poderá afirmar com garantias de certeza que esta “clarificação” será eleitoralmente benéfica para o partido. Politólogos e jornalistas dividem-se. E não há ainda sondagens que o permitam aferir, pese embora seja bem sabido que os estudos de opinião só são credíveis para quem deles conjunturalmente beneficia.
Certo é que Rio mostrou (finalmente) a garra que até agora lhe faltou. Viu-se um líder assaz combativo, astuto na estratégia e afinado na comunicação. Onde andou este Rio nos últimos 12 meses? Recuperando La Palice, é óbvio afirmar que terá de mudar, corrigir, acertar o passo. Será capaz? Difícil, já que Rui Rio não é de cedências, principalmente no que toca a questões de personalidade. Ou como diriam os brasileiros, “o jeito dele é assim mesmo”.
Só que ser teimoso e estúpido é diferente. Rio confirmou que não é estúpido e denotou o jeito para a política de alguém que, como ele tanto gosta de dizer, nunca perdeu eleições. Até admitiu que a estratégia delineada passa pela afirmação gradual enquanto alternativa. Dar continuidade a esse caminho vai exigir que, em primeiro lugar, diga realmente ao que vem e perceber que nem tudo pode ser à maneira dele. Portugal não é uma Riolândia e não se anunciam banhos de ética em casas sem banheira, nem se mostram propostas quando todo o país está de costas.
A inoportuna proposta de reforma na Justiça é exemplo paradigmático. E anunciar a apresentação das propostas do CEN (governo sombra) quando todos esperavam ouvir a resposta a Montenegro é o exemplo mais recente. Há uma coisa que se chama agenda mediática e mesmo não se gostando da ditadura que ela impõe, não se pode remar sempre e a todo o momento contra ela. Outra chama-se sentido de oportunidade. Rio vai ter de responder a uma pergunta: Jeito, para que te quero?