Quando iniciámos 2020 estávamos longe de perceber que este ano traria profundas mudanças nas nossas vidas, pois a transformação operada obriga-nos a pisar terreno movediço que nos é ainda completamente estranho. Se as previsões iniciais eram algo tranquilizadoras, afinal o monstro existe, colocando o mundo, mais uma vez, em estado de sítio, demonstrando que a existência humana é de uma fragilidade confrangedora, restando-nos apenas detetar, prevenir, proteger, tratar, reduzir, controlar e sobretudo apender.
Neste mundo globalizado ainda não é possível perceber a real dimensão da tragédia. O que virá depois do Covid-19? (isto é, se tivermos a capacidade de travar a pandemia). Quantos ficarão? Como vai ser a configuração do tecido social? O que vai acontecer à economia? Haverá uma nova ordem económica mundial? Com que regras? Como irá funcionar? Quais serão os métodos de trabalho? E as apostas e respostas políticas? E os acordos? E as relações pessoais?
São perguntas deveras pertinentes que nos obrigam a profunda reflexão. O comportamento de tudo e de todos dependerá muito da duração deste “bicho” neste mundo, que pode tornar-se ainda mais complexo e onde muitas condicionantes se poderão misturar.
A recessão pode muito bem ser uma delas e o crescimento global cairá para níveis negativos onde não serão alheios fatores como a mão-de-obra, a diminuição da produtividade, o atraso na reposição dos stocks, a falência de empresas, afetando o turismo, o desporto, o funcionamento das bolsas, o relacionamento entre pessoas. Aliás, a conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento refere que o impacto poderá ser de 220 biliões de dólares se o surto do coronavírus não for parado no espaço de um mês.
A desaceleração da economia era já uma realidade. Com a presença deste micro-organismo a redução do crescimento será um facto, a começar desde logo pela vulnerabilidade económica que encontramos na China, percebendo-se que as duas maiores economias mundiais irão acenar-nos com o velhinho canto oportunista desse coro capitalista que nos irá trazer um cardápio onde consta a nova felicidade e um novo e alegre ciclo. Tão certo como dois mais dois serem quatro.
Nesta Europa dependente percebe-se a solidariedade de alguns países para com a terceira economia da zona Euro que irá ter crescimento nulo em 2020 (provavelmente não será a única). A Comissão Europeia tem de insistir, agora mais que nunca, numa política de advertência no sentido de não deixar restringir exportações de alguns Estados-membros para todos os outros Estados-membros, apostando numa política verdadeiramente europeia.
Uma coisa é certa. Com o cancelamento de inúmeros voos a poluição área caiu cerca de 20%.
O primeiro-ministro português, na sua intervenção do passado dia 12, afirmou:
«Esta é uma situação nova e excecional que nos coloca desafios imensos, nesta partilha de vida comum, o primeiro dever é protegermo-nos uns aos outros».
Faço minhas as palavras de António Costa.