Imagine o amanhã com futuro…

Escrito por Albino Bárbara

Imagine que sobre o meu telhado existem uma série de painéis fotovoltaicos que transformam a energia solar em eletricidade, sob forma de corrente contínua, e sou possuidor de acumuladores suficientes que armazenam energia, gerindo os quatro dias em que não houve sol na cidade mais alta em 2018.
Imagine ainda que sou proprietário de um carro elétrico e consigo ser autossuficiente no consumo de toda a energia sem precisar de fontes externas. E que o meu vizinho também o é. E que o meu bairro e a minha cidade também. E que o meu país, com uma costa de quase 1.000 quilómetros e com serras ventosas, tem a capacidade de ser autossuficiente. E que há incentivos à compra de painéis e à troca de baterias em fim de vida. E que os carros elétricos ganham maior autonomia e são colocados no mercado ao mesmo preço que os movidos a gasolina ou a gasóleo.

No revés da medalha todos os governos ficariam pendurados. Os Centenos deste mundo já não poderiam fazer mais flores e apresentar resultados palpáveis, pois, como é certo e sabido, mais de metade do valor de um litro de gasolina vai direito para os cofres de um qualquer Estado e a economia mundial, tal qual a conhecemos, entraria de imediato em profundo colapso e nem o Plano de Ação para o Estabelecimento para uma Nova Ordem Económica Mundial, aprovada em maio de 1974, os conseguiria salvar.

Se por um lado todos os Estados deitam as mãos à cabeça pelo estado calamitoso em que se encontra o planeta, por outro, cinicamente, não conseguem libertar-se do jugo económico do petróleo (tanto jeito lhes dá), que juntamente com o armamento, o medicamento e a droga alimentam o sistema económico-financeiro do globo.

Termina amanhã em Madrid a Cimeira do Clima promovida pelas Nações Unidas com o apelo à diminuição de utilização dos combustíveis fósseis afim de minimizar o aquecimento global. Os 195 países ali representados juram a pés juntos que o irão fazer, uns mais que outros, atendendo ao que assinaram em Quioto e em Paris, percebendo que a situação climática é catastrófica, pois todos os sinais foram identificados, reconhecidos e evidenciados.

Os últimos cinco anos foram os mais quentes. Os desastres climáticos sucedem-se: secas, furacões, inundações, incêndios, erosão costeira, ondas gigantes, degelo nos polos e consequente subida das águas nos mares, vulcanismo, mares envenenados, Invernos mais curtos, precipitação descontrolada, aparecimento de novas doenças, o dióxido de carbono a atingir níveis nunca vistos, oceanos com incapacidade de gerarem oxigénio considerado necessário, monoculturas sem critério, utilização sistemática do carvão, etc., etc., etc. A conclusão é que todas as ações do homem em relação ao planeta estão erradas, levando António Guterres, secretário-geral da ONU, a afirmar que só existem dois caminhos: o primeiro é rendermo-nos comprometendo o futuro do planeta, para sermos lembrados (se for caso disso) «como a geração que enterrou a cabeça na areia, que brincava enquanto o planeta ardia». O segundo é o caminho da esperança. Das soluções sustentáveis, da energia limpa, da construção da outra mentalidade, da adaptação à nova ordem económica que tem forçosamente de ser estabelecida, da ambientação e construção de cidades, o movermo-nos de forma diferente (hoje mesmo andam no ar qualquer coisa como 200 mil aviões e cada um dos 5 mil milhões de veículos, movidos a gasolina, estão a lançar para o ar 160 gramas de CO2/km), alimentarmo-nos de forma diferente numa adaptação ao novo tempo que forçosamente tem de vir.

Se assim não for é mesmo o rio sem regresso. Está na minha mão, na sua mão, nas nossas mãos mudar o paradigma desta sociedade completamente dependente do carvão e do petróleo. Para continuarmos a viver. Para deixarmos um planeta limpo e sustentável aos vindouros. Para continuar a existir qualidade de vida.

Finalmente, imagine todos nós partilhando o mundo inteiro, saudável, despoluído, respirável, onde a justiça imperasse, sem países e políticas sujas e nefastas, sem complexos raciais, sem religiões, vivendo num planeta limpo e em paz. Imagine, tal como Lennon, que estamos a sonhar. Imagine que não é o único. Imagine que afinal tudo isto é possível e se torna realidade. Imagine que o amanhã tem futuro. Sim, imagine…

Sobre o autor

Albino Bárbara

Leave a Reply