A escolha do Hospital Sousa Martins, da Guarda, como um dos cinco hospitais nacionais referência de “segunda linha” para a contenção e tratamento da Covid-19 tem de nos fazer pensar. Lá por o “estado de emergência” ainda não ter terminado, não é razão para suspendermos a reflexão política.
O facto que é que o Hospital da Guarda aparece ao lado dos dois grandes hospitais de Lisboa – Santa Maria e S. José –, do segundo grande hospital do Porto – Santo António – e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Temos, portanto, uma “segunda linha” de hospitais que, em comum, têm o facto de serem todos universitários… à exceção do hospital da Guarda.
Ou seja: o hospital da Beira Interior que melhores condições e competências tem na área da Pneumologia – o hospital cujo Laboratório de Patologia Clínica da Unidade Local de Saúde da Guarda é reconhecido pela sua excelência e teve capacidade para avaliar exames ao novo coronavírus recolhidos em toda a região Centro – é, na sua sub-região, secundarizado face aos congéneres São Teotónio, em Viseu, e ao Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã.
Por outras palavras, quando é preciso uma capacidade de alto nível na linha da frente de combate a uma pandemia recorre-se ao Hospital Sousa Martins! Quando é preciso justificar a Faculdade de Medicina na Universidade da Beira Interior (Portaria 1176/2000 de 14/12) sustenta-se a sua criação com a proximidade do Hospital Sousa Martins!
Já quando é para o estatuto, e para os investimentos que lhe estão associados, os beneficiados são outros. É o São Teotónio, em Viseu, que tem a classificação de Hospital Central, sendo a “referência” para o hospital da Guarda. E é o Centro Hospitalar da Cova da Beira que é classificado como “Centro Universitário”, tendo o Hospital Sousa Martins que se contentar com a classificação de mero “hospital de ensino universitário”.
Como não é a capacidade clínica nem a laboratorial que justificam esta diferente classificação e grau de investimento – como ficou patente nesta crise da Covid-19 –, o critério é, objetivamente, outro: Viseu e Covilhã têm mais peso político do que a Guarda!
Esta tem de ser uma questão central para os autarcas da região – a começar pelo da Guarda, Carlos Chaves Monteiro, que tem as desvantagens momentâneas de estar no lugar há menos de um ano e do seu partido estar fora do Governo. Mas este é principalmente o desafio que se coloca aos deputados eleitos por este círculo e, sobretudo, às duas ministras Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa, e à secretária de Estado Rita da Cunha Mendes, que têm ligações à cidade e à região!
Não bastam sorrisos e promessas. É preciso mais, é necessário agir!
* Dirigente sindical