Historietas de transumância e nudez monárquica na tal república laica

Escrito por Albino Bárbara

“E muitos de nós, espetadores atentos desta peça do teatro do boulevard, lá vamos batendo palmas, deitando alguns foguetes, apanhando as poucas canas que entretanto vão caindo, alimentando vaidades nesta República laica onde as benesses patriarcais são mais que muitas.”

Tudo na vida tem uma razão de ser, pese embora a sua natureza mutável determine que nenhum de nós é essencial. Curiosamente verificamos a presença de alguns que fazem questão de se manter à tona da água, na mó de cima, vivendo em função dos seus esquemas virtuais, idolatrando os novos ídolos.
Este comportamento tantas vezes explicado pela psicologia evolucionista faz com que se esvaziem todos os conceitos nesse salto ideológico do camaleonismo, de prática obscena, criando uma predisposição para estar sempre do lado do poder. Esse cheiro faz com que se tornem modeláveis estando presente dose de hipocrisia q.b. A história determina que esses frequentadores da escola cínica são e serão sempre discípulos menores.
A transumância política é como o brandy Constantino. Já vem de longe. Bernardino Machado, ministro da monarquia, a República fez dele presidente. O adesivismo de grande colagem faz com que até os três bons compadres (o bom, o mau e o vilão) virem da esquerda para a direita e vice-versa, optando pela nova cor da normalidade (democrática).
E depois seguem os reizinhos, que, na sua vaidade, vestem o fato que só os tais inteligentes conseguem ver. O rei foi enganado e a criancinha fez história. Aliás, é da boca das crianças que sai a verdade.
Os reizinhos (nus) que tão bem trajam, vestem promessas de um escaparate bem conhecido que a fina flor (sempre colada ao poder), ou não fosse ela a fina flor, se gaba de ser executante exímia, esperando, claro está, pela distinção com que um dia conta ser agraciada: A ordem de mérito mais que evidente.
E muitos de nós, espetadores atentos desta peça do teatro do boulevard, lá vamos batendo palmas, deitando alguns foguetes, apanhando as poucas canas que entretanto vão caindo, alimentando vaidades nesta República laica onde as benesses patriarcais são mais que muitas. E a criancinha que há em cada um de nós tem vontade de se libertar e gritar a plenos pulmões: o rei vai nu.
O poeta alerta:
Bom dia senhor rei/Vossa alteza é o maior/Um rei tem de ser grande/se for gordo ainda é melhor. Isto dizia o cozinheiro/Olhando o rei de alto a baixo/O rei que coma/que coma/ Quero lá perder o tacho.
A história só podia terminar assim: Um foi destronado enquanto o outro vai reinar deixando que moleques e súbditos se passassem, com armas e bagagens, para o lado certo do dia porque o lado errado da noite continua a ser de Jorge Palma.
O Zé Povinho mantém a máxima nestes novos tempos que vivemos:
Rei morto. Rei posto. E tanto lá como cá…

Sobre o autor

Albino Bárbara

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