Desde que os “Philosophiae Naturalis Principia Mathematic”, da autoria de Newton, viram a luz em 1687, a demonstração matemática de que todos os movimentos celestes se devem à força gravítica converteu-se numa das tarefas fundamentais dos astrónomos. Um dos primeiros a dedicar-se a esta tarefa foi Edmond Halley, curiosamente um dos principais impulsionadores da publicação dos “Principia”.
Se a ideia de Newton estivesse correta, então os cometas que se encontrassem sujeitos à lei da gravitação descreveriam, em torno do Sol, um de três tipos de órbitas: elíptica, parabólica ou hiperbólica. Em qualquer uma das duas últimas, o cometa afastar-se-ia do Sol para sempre. Já na elíptica, o cometa descreveria uma órbita fechada e, como tal, teria período e regressaria. Assim, nas aparições do cometa, este mostraria uma órbita semelhante separada por intervalos de tempo parecidos.
Edmon Halley estava convicto de que os cometas poderiam ser periódicos e procurou, nos registos históricos disponíveis, cometas cujas órbitas fossem similares. O candidato foi o cometa observado em 1682. Halley comprovou que a sua órbitra era retrógrada, isto é, que se move no sentido oposto ao da translação dos planetas em torno do Sol, e apurou que os cometas observados em 1531 e 1607 também possuíam órbitas retrógradas. O perspicaz astrónomo investigou mais em pormenor as órbitas dos três cometas e verificou que tinham quase tudo em comum, pelo que deduziu que poderia tratar-se do mesmo corpo e, em 1695, relatou a Newton as suas suspeitas. Todavia, o intervalo entre aparições não era exatamente o mesmo. Halley deduziu corretamente que a influência gravitacional de planetas como Júpiter ou Saturno podia alterar os parâmetros orbitais do cometa em relação ao valor médio. Deste modo, Halley calculou que o cometa seria novamente visível da Terra no final de 1758 ou no início de 1759.
Halley viria a falecer em 1742, e Newton muito antes, em 1727, pelo que nenhum viveu o suficiente para comprovar a validade do prognóstico. Apenas em 1757, um ano antes do previsto retorno do cometa, astrónomos franceses refizeram os cálculos de Edmond Halley. Segundo estes astrónomos, o cometa atingiria o ponto mais próximo do Sol em meados de abril de 1759. E por fim, no dia de Natal de 1758, um astrónomo amador alemão observou o cometa pela primeira vez no seu anunciado regresso. O cometa alcançou o periélio a 13 de março de 1759. As características da sua órbita mostraram que esta era quase idêntica às dos cometas de 1531, 1607 e 1682: os quatro cometas eram o mesmo objeto. Halley, cujo nome foi atribuído ao cometa em jeito de homenagem, tinha razão e, deste modo, a atração gravitacional newtoniana recebeu uma espetacular confirmação empírica.
Halley: o cometa que demonstrou que Newton tinha razão
“Edmon Halley estava convicto de que os cometas poderiam ser periódicos e procurou, nos registos históricos disponíveis, cometas cujas órbitas fossem similares. O candidato foi o cometa observado em 1682.”