Ponto prévio:
Em Portugal, o primeiro decreto que limita a escravatura é publicado em 1761, ao tempo de el-Rei D. José e do seu todo-poderoso ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello que, na História, ficaria conhecido por Marquês de Pombal.
Dois anos depois nova legislação determina que os filhos de escravos nascidos em Portugal depois dessa data sejam considerados cidadãos livres. Já em pleno século XIX, quando em Portugal o Liberalismo se impunha, o Marquês de Sá da Bandeira, corria o ano de 1836, proíbe o tráfico negreiro. Reinava D. Luís quando, em 1869, é decretada a proibição da escravatura em todas as possessões portuguesas.
Vem esta contextualização histórica a propósito do quão é fundamental conhecermos o passado para compreendermos o nosso presente. Poder-se-ão questionar se razões políticas e económicas esconsas haveria para tal legislação. Deixemos para os historiadores o aprofundar da questão e cinjamo-nos aos factos. E estes, os factos, permitem ver que Portugal foi pioneiro a assumir a escravatura como um mal da Humanidade (ainda que boa parte do Império, a partir do século XV tenha sido construído sobre os seus alicerces).
Debrucemo-nos então sobre o presente:
Nos últimos dias tem sido notícia a situação em que vivem alguns, muitos, imigrantes no sudoeste alentejano, na chamada Costa Vicentina. São recrutados por empresas de vão-de-escada, os modernos negreiros, em países distantes. Aviões, camiões, autocarros são os barcos negreiros dos nossos dias. Chegam às centenas ou aos milhares. Não conhecem o país, não falam a língua, são alojados (ou será melhor dizer despejados?…) em condições que até a Idade Média desdenharia. Trabalham de sol a sol na mira de um salário (quantas vezes de miséria…) que lhes permita, um dia, regressar aos seus países com um pé-de-meia que lhes dê uma vida melhor.
Não nos podemos esquecer que estamos a mais de dois séculos de distância daquele primeiro decreto ao tempo de D. José, que vivemos num tempo que se outorga a si mesmo o estatuto de arauto das liberdades e da defesa dos direitos humanos. Vivemos num país que não pode, nem deve, esquecer a sua História e cujos governantes devem estar atentos a estes fenómenos e criar condições para que factos como os que agora fazem parangonas na comunicação social sejam antecipados de modo a permitir uma intervenção a montante que, por certo, obterá melhores resultados (lá diz o povo que mais vale prevenir do que remediar).
Não podemos apagar da História o tempo em que também nós, portugueses, fomos, ainda somos, um país de emigrantes e de como estes sentem a dificuldade de viver longe da sua família, das suas raízes, do seu país.
Saibamos honrar o nosso passado e receber condignamente estes imigrantes que, ao fim e ao cabo, também chegam para ajudar no funcionamento capaz da economia.
Haja memória…
Haja memória
«Não podemos apagar da História o tempo em que também nós, portugueses, fomos, ainda somos, um país de emigrantes e de como estes sentem a dificuldade de viver longe da sua família, das suas raízes, do seu país»