Entre as ruas de pedra e as casas antigas da Guarda, a cidade revela-se de uma forma que poucos percebem. Mantém-se como uma cidade que não precisa de ostentações para ser grandiosa. Vive no compasso sereno dos seus dias, tal como o calor discreto de um manto que nos abraça com suavidade.
Dezembro chega e, com ele, a magia e a solidariedade parece fazer parte do padrão da cidade, onde essa alma silenciosa revela-se com mais intensidade, acolhendo e envolvendo todos que se aproximam.
São as luzes da cidade que parecem não dormir, que brilham e despertam reflexos de fraternidade. Passo, com tempo, no Jardim José de Lemos. Sob o tema Guardo a Guarda no Coração, a cidade tenta respirar amor. Ali, nos trabalhos tecidos pelas mãos de escolas, associações, instituições, voluntários e famílias, encontra-se um gesto coletivo de ternura e azáfama do tempo que não branda. Em cada linha bordada, em cada cor pintada, parece repousar a intenção de um abraço. Não um abraço qualquer, mas aquele que nos envolve de dentro para fora, como que conhece o peso das noites frias e as histórias de quem as vive. É o mês onde as mãos não apenas tocam, mas cuidam. Onde o brilho das luzes no jardim não é apenas um adorno, mas uma esperança refletida no olhar de quem passa. E enquanto isso, a cidade abriga encontros esperados durante o ano todo. Há risos que se reencontram e vozes que, por instantes, esquecem a distância que as separou. É naquela tarde/noite mágica em que o Madeiro de Natal torna-se o ponto de convergência. Sob a luz da fogueira, o crepitar da lenha marcando ritmos de fuga barroca, os aromas no ar do vinho quente ou vinho do Porto, os rostos iluminam-se entre risos e lágrimas de histórias partilhadas e memórias. É a celebração do reencontro, o calor que atravessa gerações e que se renova ano após ano. É nesta grandeza de preservar, cuidar e manter vivo tradições que unem laços.
Dezembro na Guarda é mais do que frio e lareiras. É o aconchego de saber que há sempre algo que nos espera. É como o cobertor de papa: discreto, simples, mas essencial, tal como a mensagem de Natal, não precisa ser visto para ser sentido. Não se impõe, mas envolve-nos. Talvez seja isso que faz da Guarda um lugar especial, com uma alma silenciosa, que permanece intocada pela urgência do tempo – a sua capacidade de nos acolher e de nos lembrar, em cada dezembro, que o calor mais importante não está nas coisas, mas no que carregamos no coração e pelas pequenas coisas que fazem a vida valer a pena. Que seja sempre dezembro!