Muito para além da monumental gafe de Ana Abrunhosa, ao trocar os nomes do atual presidente da Câmara com o do anterior, o que fica das comemorações do “Dia da Cidade” da Guarda é muito pouco. Tivemos a inauguração de uma ecovia paralela a uma via de cintura externa depauperada e mais perigosa; a requalificação de alguns equipamentos públicos importantes na vida da cidade; alguns colóquios para elevar a auto-estima dos guardenses e pouco mais – dois anos depois, nem a locomotiva foi instalada na rotunda do Parque Urbano do Rio Diz..
E tivemos o anúncio pelo presidente da Câmara da Guarda de um caderno de encargos aos partidos para as próximas eleições – um conjunto de desafios e reptos para o futuro da Guarda, uma linha de compromissos que a Guarda deve exigir ao próximo Governo e a respetiva defesa pelos deputados eleitos pela Guarda. Como referiu Sérgio Costa, é necessário revelar de forma clara e com sentido de compromisso o que os partidos defendem para a Guarda (e para o distrito) no próximo mandato.
A meio do mandato autárquico, Sérgio Costa sabe que não tem muito para mostrar e que este é um momento em que se duvida da unidade do PG e dos apoiantes à sua volta (a demissão da segunda da lista, Diana Monteiro, foi só a nota mais ruidosa dessa equação). E sabe que a partir de agora também já não tem margem de erro ou de “passa-culpas” para a falta de projetos herdada do anterior executivo.
Mas também sabe que este pode ser um momento de viragem (até porque o PS tem até março para mostrar que não se esqueceu da Guarda e das promessas feitas), que nestes dois anos tudo pode mudar se a concretização de alguns desideratos anunciados e que, supostamente, estão perto de serem iniciados, como o Porto Seco, a instalação do comando da UEPS ou as obras no Hotel de Turismo. São projetos que dependem essencialmente do poder central, mas também da Câmara, e que podem determinar uma viragem na perceção do trabalho de Sérgio Costa.
Dois anos depois, o eleito independente tem dois anos para mostrar o que vale. Dois anos em que podem acontecer muitas coisas. Dois anos em que todos acreditamos que vão acontecer muitas coisas. A Guarda não pode continuar a definhar.
2. Organizada por um movimento cívico, no domingo houve uma marcha entre a Câmara da Guarda e o Hospital como forma de protesto pela situação de rutura em que está o Hospital da Guarda. À ancestral falta de médicos juntou-se a greve às horas extraordinárias, além das 150 horas, por parte dos médicos, o que leva a que muitos serviços, em muitos hospitais, não consigam responder às necessidades dos utentes. Será assim até que Governo e médicos se entendam em relação às pretensões (aumento) dos médicos. Ou até 31 de dezembro, quando a contagem voltar a zero e, com o “reset”, teremos uns meses de normalidade, mesmo que não haja acordo entre médicos e tutela.
Mas o pior é o encerramento de urgências.
A Ordem dos Médicos e os médicos, que durante anos controlaram o acesso à formação de novos clínicos e a apertada entrada na profissão, são o primeiro responsável pela situação caótica que se vive na saúde. O Serviço Nacional de Saúde já não consegue dar resposta porque os Governos não têm sabido gerir e organizar o serviço público de saúde, nem na sua planificação, nem na relação com os médicos (que pensam em primeiro lugar no que ganham). Agora, os médicos querem receber mais e não aceitam prescindir das suas reivindicações. Os médicos auferem mensalmente, em média, mais de 3.500 euros e defendem aumentos na ordem dos 30 por cento (!!!). São endeusados e fecham as urgências dos hospitais porque sabem que o SNS não tem como responder. Os médicos mandam na saúde e mandam nos hospitais. E a única forma de podermos ter saúde é recorrer aos prestadores privados… A saúde em Portugal está doente. E na Guarda já nem podemos recorrer às urgências. Uma vergonha para os políticos e para os médicos. Uma tragédia para as pessoas. E o pesadelo vai continuar. As Urgências na Guarda poderão mesmo deixar de existir…