Guarda – Património Mundial

A revitalização do Centro Histórico da Guarda não pode continuar a ser adiada; não pode continuar abandonado; tem de ser um centro de vida, com pessoas, com residentes, com atividade, com visitantes… E sim, neste “novo normal”, faz sentido valorizar mais o nosso meio: O Centro Histórico da Guarda, S. Vicente, a “cidadela”, a cidade de origem medieval deve ser candidatada a Património Mundial

1. “Vai ficar tudo bem” foi a expressão de otimismo que, a partir de Itália, se afirmou mundialmente durante o interregno que a Covid-19 nos impôs. Com mais ou menos sofrimento ou medo, o mundo parou para se proteger da pandemia, mas sempre acreditando que a tormenta haveria de passar e tudo iria ficar bem. Quase quatro meses depois, aliviados, o “novo normal” ainda não se sabe como será, mas supostamente todos tivemos tempo para refletir e confiar que tudo ia ser diferente. Afinal, depois da quarentena nada mudou e continuamos o caminho do precipício, do conflito, do extremismo e do radicalismo; ou tudo mudou, tanto que os gestos são mais violentos e a intolerância mais efetiva. Os primeiros momentos depois do confinamento foram um péssimo presságio para o “vai ficar tudo bem”. Afinal, parece que tudo está mal. A violência saiu à rua e nem as estátuas resistem à força da barbárie. O revisionismo histórico não pode vencer a razão; a intolerância não pode ser mais forte que a liberdade; a diferença de cor, de religião ou credo, de orientação sexual, de país ou estatuto social e económico não podem ser mais importantes que a própria vida. Temos de defender a liberdade e a tolerância.

2. Na última edição de O INTERIOR voltei, aqui https://ointerior.pt/opiniao/a-praca-dos-sabores/, a um assunto sobre o qual escrevi muitas vezes em relação ao valor do Centro Histórico da Guarda, ao seu abandono e à necessidade de intervir na sua requalificação. Como sempre defendi, a intervenção pública é a única forma de promover a sua recuperação e a possibilidade de ali nascer uma “praça de sabores” um dos caminhos de afirmação social e requalificação urbana. Mas essencialmente de desenvolvimento económico, sem o qual não haverá possibilidade de atrair pessoas e dar vida à cidadela, a S. Vicente.

A possibilidade de haver um fundo imobiliário que invista na aquisição de casas no Centro Histórico, na sua reconstrução e a colocação no mercado a preços reduzidos, em venda ou arrendamento, para particulares ou instituições; a promoção da recuperação de casas para promoção de residências de estudantes ou residências artísticas; a instalação de associações ou instituições públicas ou privadas na “cidadela”, são caminhos urgentes que a autarquia tem de definir e, sem mais delongas, fazer avançar (o exemplo da intervenção no centro histórico de Guimarães ou no de Braga são bons exemplos).

A revitalização do Centro Histórico da Guarda não pode continuar a ser adiada; não pode continuar abandonado; tem de ser um centro de vida, com pessoas, com residentes, com atividade, com visitantes… E sim, neste “novo normal”, faz sentido valorizar mais o nosso meio: O Centro Histórico da Guarda, S. Vicente, a “cidadela”, a cidade de origem medieval deve ser candidatada a Património Mundial, pois tem uma catedral extraordinária e que é um monumento de referência internacional, porque é um conjunto edificado de grande interesse histórico-patrimonial e artístico e tem interesse público e merece a classificação de Património da Humanidade. O assunto foi algumas vezes aflorado, foi defendido nos Oitocentos Anos da Guarda, foi cartaz da candidatura socialista em 2013 e foi sempre metido na gaveta. É verdade que o Centro Histórico da Guarda não tem, per si, e para além da Sé Catedral, edifícios extraordinários ou monumentos excecionais, mas o conjunto, as casas, a Judiaria, as ruas e ruelas, os largos, a Praça, as muralhas, a Torre de Menagem, as portas… e o que pode ser feito em termos de vida e recuperação socioeconómica e de implantação de vida cultural e artística poderão dar uma valorização imaterial que eleve a dimensão e valorização universal do Centro Histórico da Guarda.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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