Guarda – a cidade pequena que nos engrandece

Escrito por Natália Rodrigues

«É costume dizer-se que “Quem não tem passado não terá futuro”, sendo que o apelo ao nosso passado pode abrir-nos o caminho certo para a construção de um futuro melhor»

Bem-vindos à “mais alta”, à Guarda! A dois passos de Espanha e às portas da Europa… A Cidade dos 5 F’s. Da estratégica posição geográfica e das robustas muralhas que lhe conferem a Força, ao termo Farta associado à riqueza do Vale do Mondego, temos a cidade mais Fria do interior do país, devido à proximidade da Serra da Estrela e aos 1.056 metros de altitude. Mas nada que subtraia à sua beleza natural e a envolva no título de Formosa e, claro, ao imprescindível traço de Fiel, o qual nos remete ao tempo de Álvaro Gil Cabral, alcaide-mor do Castelo da Guarda, que se recusou a entregar as chaves da cidade ao Rei de Castela durante a crise de 1383-85.

Uma cidade de relevante localização a nível nacional e internacional, sendo a partir dela que correm as linhas de água subsidiárias das maiores bacias hidrográficas: a Bacia do Tejo, que abastece Lisboa, a Bacia do Mondego, que abastece Coimbra e a Bacia do Douro, que abastece o Porto. São também de relevo as suas vias de comunicação, como é o caso da famosa linha da Beira Alta, o principal eixo ferroviário para o transporte de passageiros e mercadorias para o centro da Europa. É considerada a primeira “Cidade Bioclimática Ibérica” graças ao ar que por cá se respira e que assim lhe outorgou o título pela Federação Europeia de Bioclimatismo em 2002.

De tradições festivas únicas, como o desfile e Julgamento do Galo, ao esplendor gótico e manuelino da sua Catedral. Da exposição de inúmeras peças representativas de áreas como a arqueologia, escultura e pintura sacra e armaria no Museu de seu nome, aos percursos pedestres no Parque Natural da Serra da Estrela, cuja importância internacional o elevou a Reserva Biogenética. Dos eventos culturais e artísticos do Teatro Municipal da Guarda, passando pela gastronomia regional e, mais recentemente, a Feira Ibérica de Turismo que veio reforçar a cooperação social e comercial entre Portugal e Espanha, resultado da sua ligação transfronteiriça; são vários os exemplos que fazem desta cidade bem mais que um destino de férias, podendo ser a escolha para muitos que vivem nas grandes cidades, onde muitos já aí não encontram nem espaço, nem tempo, nem vontade de lá viverem.

O trabalho à distância, potenciado pela crise sanitária que vivenciamos, veio também mostrar-nos que o interior poderá ser o lar que tantos almejam e é neste presente que precisamos planear e repensar o futuro. A oportunidade gerada pela candidatura da cidade a Capital Europeia da Cultura de 2027 será certamente a alavanca que a cidade precisaria para criar atratividade, para se afirmar culturalmente e adquirir a capacidade de mobilizar a economia, desenvolver empresas tecnológicas e valorizar o património. A sua projeção e cimentação como cidade verdadeiramente turística, não só como local de passagem, ficará certamente a dever-se à imodéstia da aposta na cultura e no património. Um exemplo disso, esperemos já para 2023, é a coleção de arte contemporânea de António Piné, permitindo que na Guarda se irá poder apreciar, entre outras, obras de Pablo Picasso, Salvador Dali, Cargaleiro ou Júlio Pomar.

É costume dizer-se que “Quem não tem passado não terá futuro”, sendo que o apelo ao nosso passado pode abrir-nos o caminho certo para a construção de um futuro melhor. Assim, impõe-se que não estraguemos o nosso presente por um passado que não tem futuro.

Professora do Instituto Politécnico da Guarda.
Natural de Coimbra

Sobre o autor

Natália Rodrigues

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