Guarda: 822 anos

“Este Dia da Cidade tem de ser, deve ser, a primeira celebração de um novo ambiente, de um novo pulsar, pelo futuro da Guarda”

A cidade da Guarda comemora dia 27 mais um aniversário da concessão do foral por D. Sancho I, em 1199. O Dia da Cidade é um momento alto do ano, é um momento de celebração, mas também um dia de reflexão sobre a cidade.
A Guarda começou há um mês uma nova etapa, com um presidente de Câmara sem maioria, que precisa de tempo, mas também de serenidade, de ideias, de esforço e dedicação administrativa e política – onde os equilíbrios e o diálogo têm de ser uma constante.
Exercer o poder, na sua aceção aristotélica, é um elemento-chave para o entendimento das relações sociais. E o seu exercício é determinante para organizar a sociedade e promover o desenvolvimento. O que se espera de quem governa é que tenha a arte e engenho de conseguir, mesmo que em minoria, atrair e agregar apoios para implementar os seus projetos e ambições. É isto que se espera de Sérgio Costa. É isto que tem de conseguir o novo presidente da Câmara. Muito mais do que lamentar a falta de apoio, tem de olhar para a frente e trilhar um caminho em que todos possam ser parte. E isso é possível. Mesmo não duvidando que Chaves Monteiro vai naturalmente colocar pedras no caminho, vai procurar mostrar que tinha razão, vai agarrar-se a convicções obtusas porque ainda não percebeu o que aconteceu e não refletiu sobre os muitos erros e inépcia demonstrada, e não compreendeu que perdeu as eleições – de forma inglória, o ex-presidente da Câmara vai acabar por se cansar e abandonar o lugar de vereador.
Este Dia da Cidade tem de ser, deve ser, a primeira celebração de um novo ambiente, de um novo pulsar, pelo futuro da Guarda (deveria ter sido na tomada de posse, mas não foi, porque os discursos da ex-presidente da Assembleia Municipal e do novo presidente de Câmara foram de ressentimento e a olhar para o passado), em que as diferenças têm de ser esbatidas e a divergência faça parte do debate político de forma sã, democrática e enriquecedora para benefício de todos. É hora de olhar em frente. É tempo de deixar para trás as discussões estéreis e o olhar para o umbigo.
Nesta edição, entrevistamos o presidente da Câmara da Guarda para contribuirmos, desde já, para o esclarecimento das grandes opções da autarquia para este mandato. Uma entrevista em que Sérgio Costa se resguarda e abstém de falar de muitos dos anseios dos guardenses – de propostas e projetos definidores do futuro coletivo, das principais obras (materiais ou imateriais) e dos caminhos que a cidade terá de percorrer. Compreende-se, chegou há pouco tempo à presidência. Mas Sérgio Costa leva oito anos no executivo e conhece muito bem a realidade e o contexto das diferentes opções que defende. Confirma tudo o que propôs em campanha e defende as linhas que o levaram ao poder. Confiante na sua caminhada, não fecha a porta a um possível regresso ao PSD, mas deixa claro que, para já, essa não será a sua opção, até porque se sente muito confortável no lugar de autarca “independente” – e sabe que chegou ao poder com muitos votos do PSD, mas também com muitos e muitos votos de socialistas e só mantendo a aureola de independente poderá manter esses votos.
Comemorar o foral da cidade é também um momento inspirador, um momento de elogio, de elevação da autoestima e de satisfação. E também um momento de acreditar que ainda há tempo e espaço para reinventar e dar nova dimensão à urbe. Num tempo de dúvidas e incertezas generalizadas, a Guarda, como o país, deve reorientar a sua estratégia, redefinir o seu horizonte, porque há um tempo novo onde há muito para construir. Precisamente esta semana foi apresentado o “Pequeno Livro Aberto Sobre o Interior” que apresenta, nomeadamente, um estudo onde refere que 60% dos jovens entre os 15 e os 25 anos, residentes no interior de Portugal, querem mudar-se para o litoral. Enquanto celebramos a “antiguidade” de uma cidade com mais de oito séculos, não podemos deixar de olhar e refletir sobre a vontade de partir dos mais jovens e recordar que o maior problema do nosso território é o despovoamento e a falta de oportunidades.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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