Grilusha balakuchy

“-Queria escrever sobre algum assunto que tivesse piada, mas não fosse a guerra.”

– Queria escrever sobre algum assunto que tivesse piada, mas não fosse a guerra.
– Escreve sobre o Scholz, que diz em público que quer ajudar a Ucrânia, e em privado faz tudo o que pode para emperrar essa ajuda.
– Mas isso é sobre a guerra na mesma.
– É e não é. Mas agora é difícil começar uma conversa e não acabar a falar da guerra. E também, que mal é que a guerra te fez?
– Pessoalmente, nenhum. Como diz o Marcelo, uma guerra no estrangeiro até pode trazer novas oportunidades.
– Por isso é que este ano o turismo vai ter uma procura danada, para virem para longe da guerra.
– Mas em contrapartida vêm para perto do Marcelo. Se calhar depois para o ano já não voltam, quando perceberem que não há tractores que os protejam das selfies com o presidente.
– Muito tu aprecias os tractores da Ucrânia.
– Não é só os tractores, mas houve boatos que a força aérea russa não levantou vôo na parada de 9 de Maio em frente ao Kremlin com medo que houvesse um batalhão de tractores ucranianos que os derrubasse. Mas lá estamos nós a falar da guerra. Quero outro assunto para escrever.
– Fala do deputado russo que apresentou um projecto de lei no parlamento de Moscovo para revogar a independência da Lituânia. Vês, não é sobre a guerra. E é tão absurdo que parece comédia.
– Os lituanos choraram a rir, com certeza. Na mesma linha de pensamento, mas em palhaçada, a assembleia municipal de Kyiv (ou em alguém em seu nome) emitiu um comunicado a anular o decreto de 1147 que fundava Moscovo. Sendo assim, Moscovo deixou de existir.
– A propósito, o Putin lá revelou os sonhos imperiais ao dizer que se compara a Pedro I.
– Se o presidente da Mongólia se quiser comparar ao Gengis Khan, lá se vai metade da Rússia. Ou se a malta da Lituânia se lembrasse de restaurar as fronteiras de 1450, deixava logo de haver Ucrânia e Bielorrússia. E se não fosse pedir muito, no tempo do Pedro I da Rússia, o Rio e Goa ainda eram nossos.
– Mas isso vai contra a autodeterminação dos povos…
– É capaz de ser. Se não tiveres nada para fazer esta tarde, podes tentar explicar isso ao professor Chomsky e ao presidente Macron.
– A autodeterminação?
– Ou que fica mais difícil decretarem uma capitulação quando não é a terra deles.
– Realmente, esta semana é capaz de ser melhor escreveres sobre outro tema.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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