A Guarda vai assinalar mais um aniversário da sua secular existência e a esse facto devo expressar as minhas felicitações e o meu reconhecimento por tudo o que tem conquistado, com esforço, ao longo dos tempos.
Devemos ter orgulho no passado, agir no presente e acima de tudo ter os olhos postos no futuro e nos desafios que são colocados a todos nós.
O primeiro grande desafio é, a meu ver, o do reforço da coesão, agregando vontades, estimulando a participação cívica e construir um projeto de modernidade em que os guardenses se possam rever. A solidariedade social e a garantia da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos têm de constituir uma das dimensões mais estruturantes das políticas públicas que a gestão das autarquias deve garantir e as comunidades devem exigir e praticar. Nessas políticas se cumprem as obrigações dos vários níveis dos poderes públicos de garantir a dignidade de vida das pessoas, o combate à pobreza e à exclusão que os ciclos de crise têm induzido no país.
A Guarda é uma cidade nobre, justa e portadora de um espírito solidário muito forte. E isso é absolutamente indispensável para se poderem contrariar os riscos de desajustamentos sociais, de dificuldades das pessoas e das famílias e dos efeitos nefastos da condição das periferias. É um combate que se exige.
Mas para isso é necessário mostrar audácia e ambição.
Um segundo grande desafio, que podemos identificar, é o do empreendedorismo, quer se trate da dimensão económica e de desenvolvimento, quer do domínio da modernização e inovação tecnológica, quer ainda nos projetos de afirmação identitária e cultural do nosso concelho, sempre no contexto da sua expressão regional e nacional.
A Guarda tem vantagens competitivas de recursos (humanos e naturais) que permitem atrair iniciativas, talento e projetos de investimento, tem na sua localização um valor estratégico para a interconexão de litoral com as áreas transfronteiras e de ligação à Europa. Este eixo estratégico da atração de investimento e de valorização das indústrias tecnológicas, ambientais, energéticas e culturais é que pode garantir a promoção social e a coesão que procurei identificar.
Neste contexto é particularmente relevante que os empresários sejam envolvidos e sejam considerados os verdadeiros impulsionadores de uma economia mais forte, mais inovadora e mais inclusiva.
Mas para isso é necessário incentivar e mobilizar.
O terceiro desafio é o do reforço do associativismo como valor fundamental para a sustentabilidade das transformações e mudanças que o futuro exige. A sociedade tem de se ir libertando das amarras e dependências dos poderes e políticas públicas centralizadas e constituir-se, ela própria, como motor dessas transformações. A Guarda precisa de acarinhar e reforçar as instituições, as suas iniciativas e a sua função social, cultivar a complementaridade e a cumplicidade com os poderes locais no sentido de potenciar o impacto da sua ação e cumprir os desafios.
Mas para isso é necessário ter convicção e determinação.
Nada se transforma sem esforço, nada se alcança sem firmeza, nada se conquista sem reivindicação. É o espírito reivindicativo, sem perder de vista a dimensão solidária, que a Guarda projetou na sua relação com o poder central, que tem de continuar a constituir o substrato cultural do nosso modo de agir e da nossa afirmação.
Se assim for, se mantivermos o espírito e a clara identificação dos desafios, se aumentarmos a autoestima e se transportarmos esperança, seguramente que ganhamos o futuro.
* Ex-presidente da Câmara Municipal da Guarda