Frankenstein nasceu no ano sem verão

Escrito por António Costa

“O impacto do Tambora coincidiu, além disso, com um episódio de atividade solar mínima. Os dois efeitos juntaram-se para produzir um dos episódios mais frios da Pequena Idade do Gelo.”

A erupção do monte Tambora, na Indonésia, produziu-se entre os dias 10 e 11 de abril de 1815. Foi a erupção mais forte dos últimos 1.600 anos e também a mais trágica, com dezenas de milhares de mortos. O Tambora emitiu três vezes mais enxofre que o Pinatubo e a coluna de gases elevou-se até aos 45 quilómetros de altitude, muito acima da troposfera. Para se compreender um pouco melhor esta comparação entre vulcões refira-se que o Monte Pinatubo, nas Filipinas, entrou em atividade a 15 de junho de 1991 com uma erupção duas vezes mais catastrófica do que a que soterrou a antiga cidade de Pompeia.
Os compostos de enxofre expelidos pelo vulcão do monte Tambora foram distribuídos por todo o planeta, aumentando durante alguns anos o albedo planetário. A superfície escureceu e as temperaturas desceram 0,7 a 1°C em média, durante vários anos. As precipitações foram anómalas, perderam-se colheitas, o que conduziu a fome e epidemias.
Na Europa, o ano de 1816 foi designado de “ano sem verão”. Nesse ano, Mary Shelley, Percy Shelley, John W. Polidori e Lorde Byron passaram as férias de verão juntos em Genebra, na Suíça. O estranho estado do tempo obrigou-os a permanecer no interior da habitação durante dias, o que proporcionou um curioso concurso sobre histórias de terror. Do mesmo surgiu o romance “Frankenstein” ou “Moderno Promoteu”, de M. Shelley, o poema “Obscuridade”, de Byron, ou a obra “O Vampiro”, de Polidori, pioneira no seu género. Esse estranho verão inspirou algumas das obras-primas da literatura de terror.
O impacto do Tambora coincidiu, além disso, com um episódio de atividade solar mínima. Os dois efeitos juntaram-se para produzir um dos episódios mais frios da Pequena Idade do Gelo.

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António Costa

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