Fogo, pá, fátuo

“Por causa do calor, das florestas e dos portugueses, o país desatou a arder como se fosse um archote. Claro que o governo não tem nenhuma responsabilidade. “

Depois do que vivemos no início desta semana, só não acredita nas alterações climáticas quem é teimoso ou pertence ao Quarteto Fantástico. O leitor deu conta como o tempo mudou de domingo para segunda-feira? Impressionante, de um calor abrasador para um fresquinho de pulôver. Cheguei, inclusivamente, a comentar com amigos, “viram como o clima se alterou?” Evidentemente, são as alterações climáticas.
O secretário-geral da ONU, organização conhecida nos meios diplomáticos por “Ónunca”, veio a Portugal avisar que estamos em emergência climática. Se há alguém em quem eu confio para reconhecer situações urgentes é António Guterres, um homem que sabe sempre quando é a altura certa de fugir.
Por causa do calor, das florestas e dos portugueses, o país desatou a arder como se fosse um archote. Claro que o governo não tem nenhuma responsabilidade. A prova desta argumentação é simples e infalível. Há fogos no Inverno? Há incêndios na Gronelândia? Há incendiários esquimós? Se houvesse, a culpa poderia ser de António Costa. Assim, é evidente que o problema é estrutural.
Mais uma vez, a época dos fogos florestais voltou a deixar à vista de todos a crónica falta de meios para a sua cobertura. Este ano, dias houve com tantos incêndios em simultâneo que não havia jornalistas suficientes para participar em directo de todas as zonas que estavam a arder.
Um jornalista com Covid ainda tentou fazer um directo da sua cama para mostrar como ele próprio ardia em febre, mas a única imagem que a câmara apanhou foram dois bombeiros a puxar da mangueira.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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