No rescaldo das eleições legislativas, o país virou à direita, com a AD a ganhar as eleições, mas teremos de aguardar a contagem dos votos dos emigrantes para conhecermos os resultados finais de umas eleições muito mais equilibradas do que era suposto e as sondagens anunciaram. Mas é uma vitória da AD tão tangencial que a vida de Luís Montenegro será muito difícil nos próximos meses. Num discurso de vitória cheio de dúvidas e incertezas, o presidente do PSD asseverou que quer ser primeiro-ministro e confia na nomeação do Presidente da República com a sua maioria relativa, mantendo o “não é não” a governar com o Chega e ficando à espera que o Partido Socialista «assuma a sua responsabilidade» e permita a sua designação como primeiro-ministro.
Mas na noite em que o Chega foi o grande vencedor, Pedro Nuno Santos esclareceu que o PS liderará a oposição. O novo ciclo começa aqui. Com o secretário-geral do PS a reconhecer que foi derrotado e agora começa um novo ciclo, o da renovação num contexto diferente em que a esquerda saiu debilitada.
A noite eleitoral significou o fecho de um ciclo, como o Presidente da República vaticinara. Na verdade, domingo houve uma mudança histórica: a hegemonia do bipartidarismo entre PS e PSD deu lugar à indefinição e à entrada em cena de uma terceira força, o Chega, com 48 deputados, e de consequências incalculáveis… «A peça central do novo sistema político português», diria Rita Matias.
Luís Montenegro procurou agregar a direita, recuperando a AD, mas conquistando poucos mais votos do que Rui Rio. Poderá traçar uma linha vermelha ao Chega, mas dificilmente sobreviverá às garras de André Ventura ou mesmo às tentações e jogos de Marcelo Rebelo de Sousa. A AD irá formar governo minoritário, mas daqui a seis meses terá de negociar o Orçamento de Estado sem vender a alma ao diabo – «a arte do possível», que será extremamente difícil, mesmo recordando o princípio de Sá Carneiro de que «a política tem de estar ao serviço» das pessoas. Em 2025 voltaremos às urnas… até lá, se houver sentido de Estado e coerência política, Luís Montenegro será o primeiro-ministro de um governo a prazo.
2. Como tantas vezes aqui alvitrei, a “onda” que varreu o país também se fez sentir na região com o partido de André Ventura a eleger deputados em todo o país, exceto no distrito de Bragança, e também no distrito da Guarda. Podemos ficar espantados ou procurar explicações em relação à votação “estranha” do ADN (que, para além da sigla poder gerar alguma confusão nos mais incautos, tem muitos pastores evangélicos nas suas listas, o que poderá também explicar os milhares de votos que teve), mas esses votos tiraram à AD um deputado na Guarda. Assim, o círculo eleitoral da Guarda terá, sem surpresa, como deputados Dulcineia Moura, da AD, e Ana Mendes Godinho eleita pelo PS. A surpresa é que o terceiro deputado pelo distrito, na anterior legislatura do PS, e que se esperava que a AD conseguisse conquistar, será Nuno Simões de Melo eleito pelo Chega.
3. Por último, a vertiginosa descida da abstenção. Há muitos anos que não votavam tantos portugueses. E grande parte do milhão de votos que teve o Chega são seguramente de muitos eleitores que em anteriores eleições não votaram e agora terão participado no “tal” voto de protesto que representou o resultado do Chega.
Fim de ciclo
“Em 2025 voltaremos às urnas…”