Festa da impotência turística

Escrito por Pedro Narciso

O desporto, a par do sumo de mangustão, é responsável por um sem número de boas sensações, e dores musculares, semana fora. Mas depois de uma habitual caminhada, desconfio que também é o principal concorrente do Memofante. É que após uma curta caminhada pela cidade só já retinha uma palavra na cabeça… Guarda.me Guarda.me Guarda.me… Elevada ao expoente da loucura, ora em pendões, ora em MUPIS, para nos lembrar que apesar de já vivermos por cá, será sempre boa ideia fazer uma visita à nossa cidade. Muito bom a prevenir a demência senil, mas melhor ainda a queimar recursos.
Bastará uma curta pesquisa pelas páginas do projeto de divulgação sobre a região da Guarda para descobrir o porquê dos Óscares do turismo não nos nomearem sequer para melhor argumento adaptado. A crítica não será totalmente justa, mas quem ouve a metralhadora de adjetivação positiva e de lugares comuns na apresentação de uma FIT só pode olhar para o que significa o peso do turismo na geração de riqueza na região e pensar onde esconderam a Alice, o Coelho e o Chapeleiro Louco.
Um País das Maravilhas em discurso político, uma miséria em números do INE. Não havendo nenhum embaixador regional com créditos suficientes para assar um cabrito na cozinha da Cristina, urge pensar em alternativas.
Os apreciadores de água em estado puro e astrofísica poderão aventurar-se, num misto entre Covão dos Conchos e buraco negro, que, afinal, é a dívida do município da Guarda à Águas de Portugal vista de Bruxelas. Uma dívida mais difícil de assumir que os processos de paternidade do Júlio Iglésias. Dos 13 milhões de 2013, aparece agora com barba e uma maturidade de 30 milhões. Cheira mal, mas claramente andámos todos a tomar banho acima das nossas possibilidades.
Para os apreciadores de enigmas sugeria o “Escape Room”, “Family Gate”. Acreditem que os serviços de Julian Assange e Rui Pinto seriam perfeitamente dispensáveis. O “swing” político não é de hoje, pelo que sozinhos conseguiriam decifrar tudo rapidamente tal o nível de consanguinidade no ar. O maior risco seria mesmo o de contrair uma doença familiarmente transmissível. Aconselha-se, por isso, uma tricotomia ou depilação prévia por profissional credenciado.
Também os amantes da poda terão na nossa cidade o prazer de ver exemplares únicos de árvores mutiladas de diversas formas. Um “freak show” horrendo que consegue colocar as más práticas de mão dada com a delapidação patrimonial. A única árvore que por agora se vai aguentado é mesmo a genealógica.
A rota das rotundas é já um clássico incontornável, uma aposta ganha que atinge agora o corolário, ao colocar o complexo de piscinas de S. Miguel no centro de uma e por baixo da linha férrea. Genial. Se a descentralização for justa, espero que doravante o Instituto de Socorros a Náufragos faça aí toda a sua formação. Por 500.000 euros, e para ser ainda mais simbólico, só colocaria um icebergue à frente da locomotiva.
Acompanhar “in loco” uma série de sucesso é também possível. O Trono de Ferro do Reino do Norte, que ficou órfão com a saída do Rei, é agora alvo de uma forte disputa. Suportados pelos seus fiéis “Orange Walkers” e com muita faca e alguidar, a luta promete. Não é uma introdução ou um “spoiler” da oitava temporada de “A Guerra dos Tronos”, pois quem vive na Guarda não se queixa das falhas da HBO, liga a Guarda TV no telemóvel ou vai para o jardim justificar o investimento na tela que a exibe de forma ininterrupta.
Já para quem não quiser fazer as curvas do Caramulo tem uma série de automóveis clássicos estrategicamente espalhados pela cidade, que por muitas vezes eu já não consigo distinguir de algumas peças do SIAC, tal a quantidade de ferrugem que emanam.
Por tudo isto, pelas contas limpas, pela não devolução do IRS, porque conseguimos destruir património sem ele arder (aprendam franceses), porque é mais fácil entrar um cavalo num palácio de Sintra do que um pónei na Sé Catedral, …
Guarda, Uma Conta Para Pagarmos Juntos!

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Pedro Narciso

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