Simão Ribas nasceu na Guarda a 20/12/1815, tendo casado com Maria dos Anjos, natural da Faia, em 1840. Serão progenitores de alguns dos principais protagonistas da vida social e económica da Guarda e da região, durante largas décadas.
A fábrica da seda de porco
Na aldeia de Porco, agora bem mais apropriadamente Aldeia Viçosa, freguesia do concelho da Guarda, fica situada uma bela e ubérrima quinta, conhecida por Quinta da Alameda. Em meados do século XVIII era seu proprietário Simão de Oliveira da Costa Almeida Osório, fidalgo da Casa Real, natural na Guarda, e irmão do bispo da Guarda, D. Jerónimo Rogado do Carvalhal. Era um homem esclarecido, apaixonado pela indústria da seda, da qual se dizia profundo conhecedor, tendo mesmo escrito uma importante obra sobe o assunto, o “Tratado Prático da Cultura de Amoreiras e Creação dos Bichos da Seda”, publicada em 1773.
E foi nessa quinta que decidiu implementar as suas ideias, criando um projeto inovador, que ia desde a criação de bichos da seda, ao processo industrial da sua manufatura. Para isso plantou amoreiras e mandou vir técnicos de Espanha, criando uma importante estrutura produtiva. Com a sua morte acabou a fábrica da seda, que teria florescido entre as décadas de 1750 e 1780.
A fábrica da seda do Porto da Carne
Em 1850, Simão Ribas, então com 35 anos, decidiu criar uma fábrica de seda no Porto da Carne. Teria sido levado, provavelmente, pelas ideias e o exemplo de Simão Osório, pois ambos eram naturais e residentes em S. Vicente, na Guarda. Fosse ou não, já a quinta tinha sido devastada pelos franceses, em 1811, quando construiu a sua fábrica no Porto da Carne.
Tinha uma dimensão acima da média e estava já dotada de uma máquina a vapor. Tinha 56 operários, seis homens e 50 mulheres, que em 1881 ganhavam 240 e 120 réis, respetivamente, trabalhando do nascer ao pôr do sol.
A seda que utilizava na sua produção era proveniente das amoreiras do distrito da Guarda. A produção, seda em rama e trama, era vendida para fábricas de tecidos de Lisboa e Porto.
A fábrica da seda da Guarda
Francisco António Patrício nasceu em Freixeda do Torrão, Figueira de Castelo Rodrigo, a 3 de agosto de 1845. Ainda novo, veio para a Guarda como humilde aprendiz. Empreendedor e dinâmico, cedo se afirmou na sociedade, vindo a casar com Dona Tereza Guilhermina Ribas, filha do seu patrão: Simão Ribas.
Seguindo as pisadas do sogro, decidiu fundar uma fábrica de seda, mas na Guarda. Assim, em 1871, nasce bem no centro da cidade, a Fábrica de Scricicultura, de fiação e cardação, da Guarda. Em 1872 adquiriu em França uma máquina a vapor de 6 cavalos, tendo vindo de lá os técnicos para a sua instalação. Empregava 47 trabalhadores.
Os seus produtos tinham muita aceitação, não só no mercado nacional, mas também em França e na Áustria. Chegou a ganhar três prémios em feiras internacionais, em Lyon, Viena e Lisboa. Em 1875, a fábrica foi trespassada a uma empresa do Porto e passou a designar-se por “C.ª Sericola Egyptaniense”.
Esta veio a falir pouco depois e, após muitas peripécias, foi adquirida pela Junta Distrital da Guarda em 1878 para ali instalar as repartições públicas da cidade.
A Fábrica da Eletricidade
Francisco Pinto Balsemão nasceu em Alfaiates, Sabugal, em 1856. Ainda rapazote veio para a Guarda, como marçano. Trabalhador e inteligente, rapidamente se tornou notado pelas suas qualidades. Em 1891 casou com Dona Luzia dos Anjos Patrício, filha de Francisco António Patrício e neta de Simão Ribas. Ou seja, fez o mesmo que o seu sogro: casou com a filha do patrão. Este relacionamento só podia dar bons frutos. Em sociedade, constroem a Fábrica da Eletricidade e a Guarda passou a ser uma das terras pioneiras na iluminação pública a eletricidade.
A fábrica do Rio Diz
Um outro e grande projeto, pela sua dimensão e qualidade, irá nascer do dinamismo de Francisco Patrício e do seu genro, Francisco Balsemão, aproveitando as vantagens da energia elétrica. Será a renomada fábrica Patrício e Balsemão, no Rio Diz.
A Fábrica do Ribas, em Videmonte
Alexandre e Joaquim eram filhos de Simão Ribas. Dinâmicos e empreendedores, como o pai, decidiram constituir uma sociedade, a “Alexandre Gonçalves Ribas & Irmão”, e construir uma fábrica de lanifícios em Videmonte, na margem esquerda do rio Mondego. Era a fábrica do Ribas.
Alexandre faleceu em 1908 e Joaquim passou a assumir a responsabilidade da sociedade. Um caso triste aconteceu em 1902, quando pelas 9 horas da noite deflagrou um terrível incêndio, como não há memória por todas aquelas terras, no célebre Engenho Grande.
A Fábrica do Ribas ficava logo em frente e os seus operários mostraram uma falta de solidariedade difícil de explicar. Estando as duas fábricas separadas apenas pelo rio Mondego, que por certo impediu a sua propagação, colocaram-se de braços cruzados em frente da fábrica em chamas, divertindo-se com a aflição dos seus colegas. Dirigiam-lhes chalaças, chamavam-lhes miseráveis e diziam-lhes que em breve ficariam sem trabalho…
A Fábrica do Ribas ardeu anos depois!
* Investigador da história local e regional