Falar de nós e dos outros. Falar só por falar. Falar sempre e de modo refletido. Quero falar-te das coisas que me atormentam, mas também dos amores, dos momentos bonitos. Gostava de não me repetir, mas se estivermos juntos muito tempo isso vai acontecer. Falaremos de nós e nós somos limitados. Somos enquadrados e com fronteiras. Há os que cruzaram o mundo e podiam contar mais. Há os que, sabedores de tudo, são limitados na voz. Há os que viveram no seu quarto apenas e desdobram-se em pensamentos. Os que viajam nos postais. Falar-te é o inverso de falar de mim. Falo mas não me encerro. Falo-te significa olhar-te nos olhos e perceber se me ouves. Falar-te não é monólogo. Falar contigo é ouvir-te, interpretar os teus gestos, perceber as tuas faces, os olhos que se escapam dos meus. Falar é pensar em ti e em mim. Desabafo contigo. Mas falar também não é um saco de lixo para onde atiras tudo o que te apetece. Não precisamos falar para comunicar. O diálogo acontece de modo sereno e constrói um momento sublime. Quero falar-te é partilhar ideias, construir pontes, libertar perfumes. Esmagar a flor falada entre os dedos e espremer até que pingue o sumo, sopre o vento e a fragrância se espalhe.
Falar-te
“Falar-te é o inverso de falar de mim. Falo mas não me encerro. Falo-te significa olhar-te nos olhos e perceber se me ouves. Falar-te não é monólogo. Falar contigo é ouvir-te, interpretar os teus gestos, perceber as tuas faces, os olhos que se escapam dos meus. Falar é pensar em ti e em mim. Desabafo contigo. “