Fact checking e Inteligência Artificial

Escrito por António Ferreira

“A credibilidade é um dos valores mais importantes para um órgão de comunicação social e é também uma garantia de qualidade.”

Todos os grandes jornais têm um departamento de verificação dos factos que publicam, em notícias, reportagens ou artigos de opinião. A credibilidade é um dos valores mais importantes para um órgão de comunicação social e é também uma garantia de qualidade. As coisas não são feitas à pressa e o que se diz não tem como fonte “alguma coisa que se viu no Facebook”. É por isso que o “New York Times” ou o “Wall Street Journal”, embora não sejam politicamente neutros, são muito mais credíveis que a Fox News.
Este requisito de credibilidade poderia ser a regra também em Portugal, na opinião e na política, embora neste último caso talvez seja pedir de mais. Por alguma razão começam a aparecer departamentos de verificação de factos na nossa comunicação social, por exemplo na SIC e no jornal “Público”. A prática devia generalizar-se, embora a tendência portuguesa para falar ou escrever primeiro e pensar depois seja difícil de controlar.
O aparecimento dos “Chat Bots” baseados em inteligência artificial vem, mesmo que com algumas reservas, permitir a verificação rápida de factos.
Na passada semana, no regresso de Lisboa para a Guarda, ouvi na TSF, no programa “Bloco Central”, o Pedro Marques Lopes defender que o IVA zero para bens essenciais não iria funcionar porque «qualquer estudante do primeiro ano sabe que a diminuição do preço faz aumentar a procura e rapidamente anular a diminuição do preço». Lembrei-me das minhas próprias aulas de Economia Política, velhas de mais de 40 anos (!), e do conceito de elasticidade da procura, para formular a seguinte pergunta ao Chat GPT, o mais conhecido “bot” de inteligência artificial. Perguntei: «Há elasticidade na procura de bens essenciais?» e recebi a resposta de que transcrevo o último parágrafo: «No caso de bens essenciais, a demanda tende a ser inelástica porque os consumidores continuam a consumir esses bens, mesmo quando os preços aumentam. No entanto, isso não significa que a demanda seja completamente insensível a mudanças nos preços. Se o preço de um bem essencial aumentar significativamente, alguns consumidores podem procurar alternativas mais acessíveis, reduzindo a quantidade demandada do bem original. Ainda assim, a resposta geral à mudança de preço será menor em comparação com bens não essenciais ou de luxo, cuja demanda é geralmente mais elástica». Isto é, acrescento eu, se as batatas aumentarem de preço não passaremos a comer caviar, passaremos a pagar as batatas mais caras.
Ouvi também António Costa, e a esquerda em geral, defenderem que a solução para os problemas criados pela inflação passa pelo aumento de salários e pensões. Recorri de novo ao Chat GPT e, de novo, ele disse-me o que já sabia (segue resumo): «Ao aumentar salários e pensões, os trabalhadores e pensionistas têm mais dinheiro para gastar, o que pode aumentar a demanda por bens e serviços. Se a economia já estiver próxima da sua capacidade produtiva, um aumento na demanda pode resultar em preços mais altos, exacerbando a inflação. Esse fenómeno é conhecido como “inflação de demanda” ou “inflação por custos”».
«Além disso, aumentar os salários também pode aumentar os custos de produção para as empresas, levando-as a aumentar os preços dos bens e serviços que oferecem. Esse efeito é conhecido como “inflação de custos” ou “inflação por oferta”. Nesse caso, os aumentos salariais podem gerar um ciclo de inflação e aumentos de salários, conhecido como “espiral inflacionária”».
«Para resolver efetivamente os problemas criados pela inflação, é importante abordar suas causas fundamentais, que podem incluir políticas monetárias e fiscais inadequadas, desequilíbrios na oferta e demanda, choques externos (como aumentos nos preços das commodities) e expectativas inflacionárias». Virá o dia em que votaremos numa destas coisas.

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António Ferreira

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