Expetativas para 2020

Escrito por Natália Rodrigues

O que esperar e recear de 2020?
O INTERIOR volta desafiar personalidades, autarcas, políticos, empresários, sindicalistas, jornalistas e dirigentes associativos a partilhar a sua opinião sobre o novo ano, bem como as suas aspirações, preocupações e anseios. Esta semana publicamos alguns contributos, mas há mais para ler nas próximas semanas

Inicio desejando que a felicidade bata nas aldravas da porta de cada um de nós e, em particular, na do jornal O INTERIOR pelos seus 20 anos de existência neste 2020, ano do génio musical Ludwig van Beethoven (250 anos do nascimento).

Que seja o ano certo para projetar, não apenas a próxima década, como as décadas vindouras. Impõe-se um exercício de reflexão coletivo, um diálogo transversal e inspirador de uma agenda estratégica para a próxima geração; um novo devir que una os portugueses em torno de causas maiores do que o somatório das nossas partes individuais ou grupais. Portugal deve esse exercício de futuro quer aos portugueses, quer aos muitos milhões de cidadãos do mundo que se exprimem na nossa língua mátria. Gostaria de acreditar num 2020 com menores desinformação e indiferença popular na fiscalização do poder político – não duvidemos de como a reação da opinião pública pode condicionar políticos e governantes, sendo, pois, importante não alimentar o pacato alheamento dos que se iludem com “o que é da política, os políticos que resolvam”. E, claro, o fundamental contributo dos jornalistas para nos informarem e questionarem os que exercem o poder.

É necessário contrariar o dialeto próprio incluído no “establishment”, que exclui e abandona quem não faz parte dele e deixa as pessoas entregues a si próprias. É neste contexto, quando lhes surge alguém que, mesmo sendo grosseiro ou politicamente incorreto, lhes fala numa linguagem que vai de encontro aos seus anseios, que se explica as pessoas lhe confiarem o seu voto. É ainda necessário não legitimar a propagação do populismo, ainda que não sendo espectável o seu alastramento em Portugal, tal seria o legitimar da mentira como arma de propagação e intervenção política. Também, como dizia Vítor Direito, «é preciso que se faça aquilo que tem de ser feito», pois o discurso enganador dos políticos de privilegiar as pessoas com um pouco mais de dinheiro, mas que pretende sobretudo dar-lhes otimismo e crédito, acaba sempre por induzir comportamentos que mais tarde se pagam caro. Em 2020 continuaremos a ter a rude saga da desigualdade, da pobreza, da fome, do racismo, da injustiça, das guerras intermitentes e da triste sensação de que não sabemos da missa a metade.

Regionalmente, precisamos de confiança nas instituições, de urgente recuperação dos serviços públicos, através de investimentos efetivos em recursos humanos e materiais, capazes de estancar as crescentes fuga das gentes e deterioração dos serviços. A ausência das famosas reformas estruturais não consolidadas até à data, e que não se prevê que neste governo minoritário possam vir a consolidar-se no presente ano, só poderá contribuir para o nosso contínuo definhar, na minha perspetiva. Todavia, nada deverá ser dado como perdido enquanto estivermos dispostos em dizer não, com o não coerente e consequente de retirar as pedras no caminho, sendo por isso importante mantermos uma atitude atenta e fiscalizadora da ação dos políticos. Por fim, e não menos importante, deveremos ser gratos à vida por nos dar a oportunidade de, a cada dia, contribuir para a sua mudança. Um muito feliz 2020!

* Professora da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico da Guarda

Sobre o autor

Natália Rodrigues

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