Estudantes do Concelho da Guarda na Universidade de Coimbra – Parte IV (1910-1911)

Escrito por Francisco Manso

«Assim, quando a Assistência Nacional aos Tuberculosos decidiu, já com alguma influência sua, construir um sanatório na Guarda, foi com naturalidade que o escolheu para seu delegado na cidade»

  • Antonino Freire Falcão de Campos
    Filho de Antonino Augusto Freire Ribeiro de Campos, nasceu na Guarda. Matriculou-se na Faculdade Direito.
  • Armando Martins Dias Rocha
    Filho de António Martins da Rocha, era natural de Famalicão, concelho da Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Matemática.
  • Emygdio Pereira dos Santos
    Filho de Manuel dos Santos, era natural de Monte Margarida, concelho da Guarda. Matriculou-se na Faculdade Direito.

Fausto Lopo Patrício de Carvalho

Fausto Lopo de Carvalho

Filho de Lopo José de Figueiredo Carvalho (Tojal, Sátão, 3 de maio de 1857 – Guarda, 6 de julho de 1922) e de Leopoldina dos Anjos Ribas Patrício (Guarda, 12 de março de 1868 – Guarda, 29 de outubro de 1953), nasceu na Guarda a 15 de maio de 1890. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, onde obteve sempre as mais altas classificações. Casou com Fernanda Abreu Caroça, filha do doutor Manuel Caroça, dentista e empresário.
Fausto Lopo de Carvalho seguiu a carreira docente, primeiro em Coimbra e depois em Lisboa. Desenvolveu, a par de Egas Moniz e Almeida Lima, os trabalhos que levaram à descoberta da angiografia. Foi eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa em 1934, tendo passado a sócio efetivo em 1956 com a morte de Egas Moniz. Prova indiscutível do seu valor científico, foi a proposta feita em 1961 pela Academia das Ciências de Lisboa, juntamente com Reinaldo dos Santos, ao Prémio Nobel da Medicina. Foi presidente da Assistência Nacional aos Tuberculosos (ANT) entre 1931 e 1938. Faleceu a 23 de maio de 1970.

O consultório dr. Lopo de Carvalho

Consultório Dr. Lopo de Carvalho
Consultório Dr. Lopo de Carvalho

O pai de Fausto Lopo de Carvalho, Lopo José de Carvalho, foi um distinto tisiologista, um dos maiores do seu tempo. Assim, quando a Assistência Nacional aos Tuberculosos decidiu, já com alguma influência sua, construir um sanatório na Guarda, foi com naturalidade que o escolheu para seu delegado na cidade. Dele veio a ser o primeiro diretor, deixando, por isso, o lugar de diretor do Hospital da Misericórdia. O seu consultório, bem modesto, ficava em frente à igreja da Misericórdia e era partilhado com um colega. A Guarda e as suas gentes estavam-lhe gratas e, em 1900, a Câmara Municipal decidiu atribuir o seu nome à rua onde residia, que, a partir de então, deixou de ser a Rua do Arrabalde e passou a ser a Rua dr. Lopo de Carvalho.

O consultório – Obra de gratidão

Alguns doentes e amigos aperceberam-se das fracas condições de atendimento, trabalho e investigação do seu consultório, pois era num quarto das traseiras que fazia algumas culturas bacteriológicas.
Daí a ideia de lhe oferecer um outro, mais de acordo com a dignidade da sua pessoa e as funções que desempenhava.
Foi escolhida uma “comissão de respeitáveis cavalheiros”, encarregada de orientar todo o processo, desde a recolha e gestão das verbas doadas, à escolha do local para a implantação do edifício e das suas características arquitetónicas.
O local escolhido foi um terreno municipal, no Largo de S. João, então ainda um ermo, mas já vista como zona de expansão da cidade. Ali se irão localizar o Coliseu da Beira, a Caixa Geral de Depósitos e o Montepio Egitaniense.
A Câmara Municipal anuiu ao pedido feito pala “comissão” e cedeu um terreno com 600 metros quadrados, necessários à concretização da obra.
Começou de imediato uma violenta campanha no jornal “Comércio da Guarda”, encabeçada pelo médico dr. João Monteiro Sacadura, antes seu amigo, mas agora grande rival do dr. Lopo de Carvalho.

A polémica

A campanha contra a cedência do terreno continua cada vez mais forte e deselegante e ao “Comércio da Guarda” opõe-se com igual vigor e determinação o jornal “Districto da Guarda”, órgão do Centro Progressista da Guarda, entusiasta da oferta e grande defensor de Lopo de Carvalho. O que é certo é que em 1902 a obra teve início, independente das polémicas apaixonadas, fosse nos jornais, no Clube Egitaniense ou na simples taberna.
Lopo de Carvalho, procurando mostrar indiferença, mas muito pesaroso, afirmava: «Ainda hoje não sei o nome de todos os meus amigos que sobre si tomaram o encargo de construir o consultório que em breve vai ficar concluído, sei apenas que, por cada pedra que ali se tem colocado, eu tenho recebido uma descompostura no “Comércio da Guarda”; e por cada telha que ali se puser receberei uma nova injúria».

A inauguração

O edifício do consultório fez-se com relativa rapidez e a 30 de maio de 1904 foi inaugurado com “pompa e circunstância”, na presença das pessoas mais gradas da cidade.
Na altura, na sessão de homenagem que decorreu no salão nobre da Câmara Municipal, disse o sr. arcebispo da Guarda, D. Manuel Vieira de Matos: «O consultório é uma casa onde os pobres encontrarão a mais estremada dedicação; é uma casa de caridade, por isso fica bem perto da misericórdia que na sua sombra protectora acolhe e agasalha os desvalidos e os indigentes». Foi uma consagração justa e merecida!

A devolução à cidade

Falecido o dr. Lopo de Carvalho (1922), o edifício ficou devoluto. Mas, em 1932, seu filho, Fausto Lopo, à altura presidente da Assistência Nacional Tuberculosos, decidiu doar o consultório e residência à cidade e ao povo que ele tanto amava. Ali funcionou, mais tarde, o SLAT – Serviço de Luta Antituberculosa.
Hoje, lá continua, bem conservado, impressionando pela beleza e elegância das suas linhas e pela qualidade do material utilizado na sua construção.
Lembra um passado recente que só nos orgulha e dignifica, contrastando com o estado lamentável de conservação do jazigo familiar no cemitério da Guarda.

Sobre o autor

Francisco Manso

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