Estudantes da Guarda na Universidade de Coimbra – Parte 3

Escrito por Francisco Manso

«O que pretendemos neste trabalho é saber quem eram esses estudantes e o que fizeram depois, já doutores»

Os estudantes do concelho da Guarda na Universidade de Coimbra, a única até 1911, são poucos. O que pretendemos neste trabalho é saber quem eram esses estudantes e o que fizeram depois, já doutores. Ao mesmo tempo procuramos avivar a memória das suas famílias, pois uns e outros serão os protagonistas da Guarda, e, por vezes, do país.

1902/1903

Annibal D’Almeida Franco

Filho de Vicente Ferreira Franco (1850-1915), natural de Vilar Maior (Sabugal), e de Ana Maria, natural do Ferro (Covilhã). Nasceu na quinta da Carrasca, uma das muitas quintas que então rodeavam a Guarda e dela faziam parte. Foi batizado na Sé Catedral a 25 de outubro de 1880. O pai, filho de uma senhora francesa, Ana Fadie Franco, era empregado dos caminhos de ferro, mas passou para a Direção das Obras Públicas do Distrito da Guarda. Aníbal matriculou-se na Faculdade de Matemática. Em 1923 foi condecorado com o Grau de Comendador da Ordem de Avis. Em 8/7/1931 foi nomeado Delegado Especial do ministro do Interior.

João Franco

Filho de João Chrysostomo Pereira Franco (6/6/1851-1920) e de Maria Delfina Tavares de Sá Piedade, ambos da Guarda. Nasceu nesta cidade a 23/6/1884, na altura em que o pai era capitão no Regimento de Infantaria 12, aqui aquartelado. Foram padrinhos de batismo o avô, Vital José, oficial reformado do Governo Civil, e o médico, dr. Francisco Vasconcelos Sobral. Matriculou-se na Faculdade de Direito. Casou com Aurora Abrantes de Carvalho, natural da Póvoa do Varzim, onde passou a residir. Aí faleceu a 29/6/1943.

Álvaro Xavier de Castro

Filho de José Augusto Soares Ribeiro de Castro e Maria Benedita da Costa Pignately, nasceu na Guarda a 9/11/1878. Casou, ainda estudante, com Maria Rosa de Meyreles Garrido, de quem teve um filho, Álvaro, como o pai. Matriculou-se na Faculdade de Direito em 1903/04 e terminou em 1907/08. É curiosa a carreira estudantil de Álvaro. Em 1903, ano da sua primeira matrícula na Universidade, já era alferes depois de ter iniciado uma carreira militar nos Lanceiros d`El-Rei, em 1896, e terminado o curso de infantaria da Escola do Exército.
Do pai, grão-mestre adjunto da maçonaria e presidente do ministério, seguiu pisadas e herdou ensinamentos, vindo a ser, indiscutivelmente, uma das figuras marcantes da Primeira República. Em termos militares atingiu o posto de major.
A sua ação política teve início ainda em Coimbra, com a sua adesão ao PRP (Partido Republicano Português) e participando nas conspirações de 1908 e 1910. Foi eleito deputado para a Assembleia Constituinte, em 1911. Era, por essa altura, um ativo líder dos “jovens turcos”, um grupo de oficiais organizados em voltada loja maçónica “Jovem Turquia”.
Em 1913, Álvaro de Castro é nomeado ministro da Justiça e posteriormente ministro das Finanças. Será um dos dirigentes do movimento revolucionário de Santarém, em 1919. Em 1920 tornava-se líder parlamentear dos democráticos, mas em novembro afasta-se do PRP e funda o Partido Reconstituinte.
Exerceu muitos e relevantes cargos políticos, muitos deles de efémera duração. Foi deputado, ministro da Justiça (1913), ministro das Finanças (1914), governador de Moçambique (1915-1918), ministro das Colónias (janeiro de 1920), presidente do Ministério e ministro do Interior (20 a 30 de novembro de 1920), ministro da Guerra (30 de novembro a 23 de maio de 1921), novamente presidente do Ministério (18 de dezembro de 1923 a 6 julho de 1924), que acumulou com o ministério das Colónias (18 a 28 de dezembro) e das Finanças (28 de dezembro de 1923 a 6 de julho de 1924).
De ideias por vezes radicais, com o advento da Ditadura Militar em 1926 exilou-se em Paris. Foram tempos difíceis, de pouca saúde e pouco dinheiro, mas por intercessão da família e dos amigos acabou por ser autorizado a regressar a Portugal. Veio a falecer pouco depois em Coimbra (29.06.1928), de onde a esposa era natural.

1903/1904

Joaquim Gonçalves Paúl

Filho de Joaquim Gonçalves Paúl, comerciante na Guarda, e de Ana de Sá, natural dos Meios, nasceu na freguesia da Sé a 14/11/1885. Matriculou-se na Faculdade de Direito, onde conviveu com o seu irmão Amândio Paúl, que veio a ser o segundo diretor do Sanatório Sousa Martins. Casou com Laura Salvatori Santos (brasileira). Viveu boa parte da vida em Viana do Castelo onde foi advogado e Secretário-Geral do Governo Civil entre 1920 e 1935. Faleceu em Lisboa a 27/8/1962.

Sobre o autor

Francisco Manso

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