Já sabemos que o ano de 2025 vai ser o mais quente de sempre, como o tinham sido os anos de 2024 e 2023. O objetivo do acordo de Paris de 2015, de limitar a subida da temperatura do planeta a 1,5º C, por comparação à era pré-industrial, soçobrou no ano passado e ameaça ficar ultrapassado, para pior, já este ano. Trump abandonou o Acordo de Paris em 2016 e vai agora sair de novo, em cumprimento de uma promessa eleitoral e revogando o regresso patrocinado por Joe Biden. Prometeu também a promoção dos combustíveis fósseis, a limitação dos carros elétricos e, em suma, o final da luta dos EUA contra as alterações climáticas.
O resto da plataforma política de Trump não traz muitas razões para ficarmos tranquilos, desde as ameaças à soberania do Canadá, do Panamá e da Dinamarca, a promessas de aumento das tarifas à importação de produtos europeus ou de deportação de quinze milhões de emigrantes ilegais, incluindo certamente milhares de portugueses. Não vamos também esquecer as ameaças aos outros países da Nato, no caso de não cumprirem a meta de investimento na defesa, ou a forma como vai procurar destruir a democracia americana e o seu sistema de pesos e contrapesos. Com ele vai estar a “fina-flor” da extrema-direita mundial, muitos em pessoa, como Meloni ou Ventura, outros em espírito, como Putin. No governo vai ter lunáticos, como Robert F. Kennedy Jr., criminosos como Pete Hegseth, socialites e multimilionários. Tudo para bem da oligarquia e para mal dos desgraçados que votaram nele.
A extrema-direita já está no poder na Hungria e integra governos de coligação em Itália, Finlândia, Chéquia e Croácia. Ameaça chegar ao poder na Áustria, em França e na Alemanha. Tem representação parlamentar significativa em Portugal, na Suécia, no Luxemburgo, na Roménia e em Chipre. É evidente que a maré virou a favor do populismo e das suas bandeiras. A mensagem passou e continua a passar. Conseguiram reduzir os grandes problemas do nosso tempo à imigração e à segurança e identificaram como grande inimiga a ideologia Woke. Reduziram as propostas da esquerda às políticas sobre identidade de género, desvirtuando-as, e conseguiram fazer passar generalizações, teorias da conspirações, mentiras e exageros, reconduzindo à categoria de “radicais” todos os que se lhe opõem.
A extrema-esquerda tem culpas em tudo isto e tem sido utilizada para fazer passar esses exageros e generalizações. Numa iniciativa do Partido Democrata, Kamala Harris foi confrontada por ativistas da ideologia de género sobre qual a sua posição quanto ao direito dos presos nas cadeias norte-americanos a mudar de sexo. Kamala, em vez de pedir que lhe colocassem questões que interessassem à generalidade dos americanos, escolheu não hostilizar quem lhe fez essa pergunta e deu a resposta politicamente correta – tudo para ser massacrada na campanha nas semanas seguintes.
É isso: a esquerda, pelo menos a mais radical, anda à caça dos gambosinos e perde a confiança dos eleitores de cada vez que abre a boca. Em 2025, que irá ser o ano mais quente de sempre, vamos continuar a falar dos perigos trazidos pelos imigrantes, pelas vacinas e pelos carros elétricos, ou então dos direitos sexuais de mais uma minoria.
* António Ferreira regressa ao seu espaço habitual, na página 3, na próxima edição