1. Mais de 20 anos depois, o recém eleito presidente do IPG não é um “herdeiro” do poder naquele estabelecimento de ensino superior (para memória futura: Avelino Passos Morgado foi o primeiro presidente da comissão instaladora do IPG – de 1983 a 1985. A partir de agosto de 85, seria João Raimundo, que, em novembro de 1994, foi substituído por Martins da Fonseca, então vice-presidente do Instituto, após detenção de Raimundo em regime de prisão preventiva por suspeita de participação em associação criminosa. Poucos meses depois, já em 95, o então presidente interino avançou com o primeiro processo eleitoral do IPG, com Bento Leal a vencer as eleições e a tornar-se no primeiro presidente eleito do IPG. Com a sua tomada de posse, a 12 de junho de 95, terminou o regime de instalação. Nas eleições de 1998 José Alves foi o único concorrente à sucessão de Bento Leal, de quem era vice-presidente, tendo sido eleito. Sucedeu-lhe, em dezembro de 2000, Jorge Mendes, também ele um vice a chegar à cadeira maior do IPG. E em 2010, Constantino Rei sucedeu a Jorge Mendes de quem era vice-presidente).
Por isso, e por todos os apoios anunciados, os mesmo que têm assegurado a manutenção do status quo no Politécnico da Guarda, Gonçalo Poeta Fernandes, vice de Constantino Rei, aparentemente, iria dar continuidade ao poder reinante. Mas não foi assim. Em eleições históricas, os “grandes eleitores” do IPG escolheram a mudança e votaram maioritariamente em Joaquim Brigas. E se a “máquina” interna estava toda com Gonçalo Fernandes – uma máquina baseada na manutenção de interesses, na continuação do status dominante e no predomínio dos interesses instalados -, a que se juntaram declarações de apoio como a do presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro, ou do antigo presidente do IPG João Raimundo, acabou por ser com razoável surpresa que Joaquim Brigas foi o escolhido. E terá sido, precisamente, uma vitória conquistada internamente, junto dos que viram uma excessiva politização na atual presidência e contra a ingerência de políticos e de interesses estranhos ao IPG. E foi também um resultado consubstanciado na avaliação negativa nos últimos anos da atual presidência, representada por Gonçalo Fernandes, em que o IPG voltou a adormecer e o futuro voltava a ser incerto (nas palavras do próprio presidente Constantino Rei, cuja mensagem era sempre de incerteza, negação e excesso de estoicidade). A tudo isto, juntou-se a perceção e a carga negativa dos dados: o estabelecimento de ensino superior com maior descida de novos alunos face ao ano anterior. Algo tinha de acontecer. Alguma coisa teria de mudar. E foram essas preocupações e vontade de mudança que levaram ao desenlace favorável a Joaquim Brigas – a mudança é sempre uma oportunidade e uma alavanca extraordinária de metamorfose, progresso e renovação. É esse o compromisso que agora se exige ao novo presidente do IPG. Um compromisso pelo futuro do Politécnico, da Guarda e da região.
2. As eleições europeias só serão no próximo ano (26 de maio), mas os movimentos de bastidores para assegurar um lugar nas listas começou há muito. António Costa empurrou para a convenção socialista de fevereiro o anúncio da lista, que será paritária (com 50% de mulheres) e excluirá Ana Gomes em nome da renovação. No PSD, Rui Rio prefere tratar do assunto longe dos holofotes e sem ruído. Ainda assim, e enquanto se espera a confirmação de Paulo Rangel para repetir o primeiro lugar da lista ou se Fernando Ruas irá seguir em Bruxelas, há nomes que parecem incontornáveis entre os social-democratas como Isabel Meirelles, Graça Carvalho ou Poiares Maduro. O PSD deverá eleger oito deputados ao Parlamento Europeu, provavelmente metade mulheres. E é neste contexto que, há muito, Álvaro Amaro fez saber ao presidente do PSD o seu interesse em seguir para a Europa. No equilíbrio de forças internas, Paulo Mota Pinto é o outro notável da região centro (e presidente da mesa do Congresso do PSD) que também terá interesse num lugar numa lista onde sobram nomes, mas faltam lugares elegíveis. Como aqui escrevemos, no contexto das últimas autárquicas (enquanto o candidato do PS asseverava, sem ser ouvido, que iria estar na Guarda durante «os próximos quatro anos ao contrário de Álvaro Amaro»), o presidente da Câmara da Guarda é um político ambicioso e para quem a Guarda nunca foi um destino em si mesmo. A Guarda foi o elevador que permitiu a Álvaro Amaro estar entre os vencedores e lhe garantiu a ribalta que tão bem soube aproveitar. Nos primeiros meses de 2019 se verá, mas Álvaro Amaro tem as malas preparadas e nelas leva argumentos suficientes para o presidente do PSD assumir a vontade do presidente dos autarcas sociais-democratas e negociador, em nome de Rui Rio, do acordo sobre a descentralização com o governo. Tudo argumentos que pesarão na putativa inclusão de Amaro entre os primeiros na lista para o Parlamento Europeu. Carlos Chaves Monteiro é o senhor que se segue na Guarda. E já a partir de maio de 2019.