Épsilon Eridani e Tau Ceti

Escrito por António Costa

«Não é necessário dizer que as duas estrelas tiveram um papel importante na cultura popular e são mencionadas em inúmeras histórias de ficção científica, jogos e séries de televisão»

Épsilon Eridani e Tau Ceti são duas estrelas que ocupam um lugar especial para os caçadores de planetas e para qualquer pessoa interessada na procura de vida fora do sistema solar. De facto, são duas estrelas individuais parecidas com o Sol mais próximas de nós. A primeira está a 10,5 anos-luz, a segunda a 11,9 (de notar que 1 ano-luz equivale a 9.500.000.000.000!). Em termos absolutos, as duas componentes de Alfa Centauri – também semelhante ao Sol – estão mais perto, mas trata-se de um sistema duplo, não de estrelas individuais. Até há pouco tempo pensava-se que as estrelas duplas ou múltiplas não eram um lugar bom para procurar planetas porque se supunha que as órbitas destes últimos seriam instáveis. Todavia, nos últimos anos foram descobertos planetas em sistemas estelares duplos e múltiplos, como o caso (incerto) da própria Alfa de Centauri B.

Seja como for, Épsilon Eridani e Tau Ceti foram consideradas durante muito tempo estrelas interessantes e que mereciam uma investigação. Se existissem planetas extrassolares, que melhor lugar para os procurar do que em estrelas semelhantes ao Sol? Por outro lado, sabemos que o Sol tem planetas e, por isso, as estrelas parecidas com ele também poderão tê-los. Hoje sabemos que há planetas em redor de estrelas diferentes, mas antes de os descobrirmos considerava-se – de maneira razoável – a semelhança com o Sol um fator de valor especial. Em 1960, o astrónomo da Universidade de Cornell, Frank Drake – um dos maiores pioneiros da pesquisa da vida inteligente extraterrestre com tecnologia rádio –, deu luz verde ao Projeto Ozma, no National Radio Astronomy Observatory em Green Bank, Virgínia Ocidental. Trata-se da primeira tentativa jamais realizada de “escutar” algumas estrelas no domínio de ondas de rádio com o objetivo de detetar eventuais sinais de origem artificial, emitidos por uma civilização extraterrestre tecnologicamente evoluída num planeta situado na vizinhança. Atenção à data: estamos em 1960, os primeiros exoplanetas seriam descobertos mais de 30 anos depois. Drake escolheu as estrela Épsilon Eridani e Tau Ceti para levar a cabo as observações. Durante a primeira sessão de observações, Drake detetou um forte sinal que provinha de Épsilon Eridani! «Olhámos uns para os outros com ar de incrédulo. Era assim tão fácil!», refere Drake nas suas memórias sobre este projeto. De facto, não era. Drake afastou o telescópio de Épsilon Eridani e voltou mais tarde a direcioná-lo para a estrela, mas o sinal desaparecera. Apurou-se depois que se tratava de uma interferência de rádio terrestre, causada por um avião a grande altitude.

Épsilon Eridani tem um planeta, Épsilon Eridani b, com um semieixo maior igual a 3,4 UA (1 UA equivale 150.000.000 km) e uma órbita bastante excêntrica. Trata-se de um planeta gigante fora da zona habitável, tendo em conta a luminosidade intrínseca da estrela é um terço do Sol. Há indícios de que pode haver um segundo planeta a 40 UA, mas a questão é controversa. Além disso, a estrela está rodeada por um disco de escombros. Pensa-se que existam duas cinturas principais parecidas com a Cintura de Asteroides do Sistema Solar. Também Tau Centi possui um disco de escombros, mas muito menos denso do que o do Épsilon Eridani. Entre estas duas estrelas, Tau Ceti é considerada a mais promissora para a pesquisa da vida extraterrestre: apresenta uma ideia mais parecida com o Sol, enquanto Épsilon Eridani tem algumas centenas de milhões de anos. Além disso, a presença, em redor desta última, de um planeta maciço com uma órbita excêntrica poderia impedir – com as suas perturbações gravitacionais – uma órbita estável de um planeta terrestre na zona habitável.

Não é necessário dizer que as duas estrelas tiveram um papel importante na cultura popular e são mencionadas em inúmeras histórias de ficção científica, jogos e séries de televisão. Por exemplo, Épsilon Eridani é mencionada num episódio da série “A Teoria do Big Bang”, quando o astrofísico Raj – um dos protagonistas da série – a observa, mediante controlo remoto com um telescópio no Havai, para ver se há planetas em trânsito.

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António Costa

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