Pedro Nuno, um jovem pioneiro socialista, vivia na casa que fora do seu avô António e do seu bisavô Mário, numa clareira da floresta urbana chamada Largo do Rato. Um dia, Pedro Nuno saiu para o largo, deixando aberto o portão da sede, e um pato-bravo que vivia de avenças mensais logo aproveitou a oportunidade para nadar em bons rendimentos num condomínio próximo.
Mais tarde, o pato-bravo e um pássaro armado em cuco discutiam se um ministro deve ser capaz de administrar empresas ou gerir condomínios. Um gato da televisão perseguiu-os tranquilamente e o passarão – avisado por Pedro Nuno – voou para um lugar seguro numa árvore tão alta que nenhum juiz de instrução o conseguisse apanhar, enquanto o pato-bravo fugira para um lugar seguro no meio do oceano Atlântico.
O avô de Pedro Nuno repreendeu-o por querer ficar a brincar sozinho no parlamento, porque a qualquer momento o Lobo Antunes o poderia atacar. Quando Pedro Nuno se mostrou desafiador, acreditando que nada tinha a temer de Lobo Antunes ou Freitas Lobo, o avô levou Pedro Nuno para dentro de casa. Foi nessa altura que um Lobo Antunes surgiu da floresta. Assustado com a misantropia deste último, o gato subiu rapidamente com o pássaro na hierarquia do governo, mas o pato-bravo, que tinha saltado do partido, foi perseguido, ultrapassado e engolido pelo animal feroz.
Ao ver tudo isto da tranquilidade da sua casa burguesa, Pedro Nuno foi buscar uma corda de salvação com moção de confiança para trepar o muro que separa um parlamento da polícia de choque. Pedro Nuno pediu ao pássaro que azucrine a cabeça do Lobo Antunes com elogios a José Saramago, para o distrair, enquanto Pedro Nuno lança uma corda e apanha Lobo Antunes pela cauda. Lobo Antunes debate-se para se libertar do meio literário português, mas Pedro Nuno prendeu a corda à crítica literária, e quanto mais Lobo Antunes dava entrevistas mais apertado ficava o laço.
Os leitores que seguiam Lobo Antunes saem da FNAC com as suas metáforas prontas, mas Pedro Nuno consegue convencê-los que o ajudem a levar Lobo Antunes para um festival literário num desfile de celebração, que inclui Pedro Nuno, os leitores que idolatram o Lobo Antunes, o gato pardo e, por fim, o avô António, vindo de Bruxelas, ainda desapontado por Pedro Nuno ter ignorado os seus avisos, mas orgulhoso por Pedro Nuno ter apanhado as figuras de estilo do escritor feroz.
No final, o narrador afirma que os leitores atentos podem ouvir o pato-bravo ainda a grasnar dentro do livro de Lobo Antunes, porque foi inteiramente transformado numa sinédoque. Numa reviravolta final, Pedro Nuno perde as eleições e Lobo Antunes ganha o Nobel.
(Nota para a orquestra: Pedro Nuno deve ser representado por um quarteto de cordas.)
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia