Os resultados eleitorais do último domingo são muito difíceis de analisar, já que não estava assim tão bom tempo para ir à praia, nem tão mau tempo para ficar em casa. Segundo a Ciência Política portuguesa, estas eram as duas principais causas da abstenção. Portanto, não se consegue perceber a razão para metade do povo não ter comparecido nas urnas.
Diz-se que desta vez o PS ganhou e que o PSD perdeu. Mas em 2015, o PSD parecia ter ganho e o PS aparentava ter perdido.
A primeira conclusão é que, em Portugal, qualquer que seja o partido mais votado, António Costa é sempre primeiro-ministro. A segunda ilação é que as eleições não servem para ver quem tem mais votos, mas quem tem melhores amigos.
O PS assegura que poderá ter relações com os outros partidos de acordo com as necessidades e vontades de cada momento. Não haverá casamento de papel assinado, nem sequer coabitação. Os próximos quatro anos serão uma legislatura do engate. Uma espécie de “one law stand”, com piropos para todo o lado: “Tens um belo pacote laboral”; “Tu és um pão, com pouco sal e só com cereais biológicos”; “Arrepio-me todo quando me sussurras o Tratado de Lisboa”; “Gostava de te ver cheio de açúcar e coberto de NATO”.
Nesta era digital, o Governo socialista poderia criar uma app chamada Tindecreto, criando um perfil para cada um dos decretos-lei que pretenda levar ao parlamento. Nessa aplicação, os vários partidos no Parlamento farão a sua escolha, “swipe right” ou “swipe left”, indicando se gostam ou não de cada proposta. O Governo só tem de esperar que dê match e iniciar um chat, que poderá eventualmente terminar num encontro negocial.
À espera do pedido de amizade do PS está, claramente, o reforçado partido Pessoas – Animais – Natureza, uma espécie de matrioska conceptual (as pessoas são animais, e os animais são natureza). Com mais deputados e maior subvenção financeira, o partido de André Silva deixou de ser apenas PANfletário e passou a ser PAN-rico. Se não fosse a aversão à carne de vaca, ainda se arriscavam a ser os PANçudos.
A Iniciativa Liberal, o Chega e o Livre terão ainda muito caminho político a percorrer. Mas, apesar de terem apenas um deputado cada, nenhum deles é conhecido por uma sigla. Ter partidos designados pelos nomes inteiros, em vez de acrónimos. Isto sim, é a verdadeira mudança no sistema partidário português.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia