Energia de mau porte

Escrito por Fernando Pereira

“Lastimo que no fim de tudo isto, que não sei quando será, e que repercussões sobrevirão, o povo ucraniano estará francamente mal e a Ucrânia dilacerada com uma dívida enorme de uma guerra posta e imposta por interesses, que não são exatamente os seus.”

Confesso que ando significativamente apreensivo por quase tudo, principalmente porque o futuro vai-se turvando com as mesmas nuvens que ensombraram o passado.
Não vou “Ucranear” porque de certa forma tem sido feito até à exaustão, e só consigo lembrar a frase simples de Juliette Greco: «A chuva ajuda todas as plantas a crescer, mesmo as venenosas». Lastimo que no fim de tudo isto, que não sei quando será, e que repercussões sobrevirão, o povo ucraniano estará francamente mal e a Ucrânia dilacerada com uma dívida enorme de uma guerra posta e imposta por interesses, que não são exatamente os seus.
A solidariedade hoje é uma palavra que faz parte do cardápio dos média e eles não querem em circunstância alguma que haja assuntos mortos e rapidamente os vemos mudar a agulha e transformar conflitos cobertos até à exaustão em guerras esquecidas um pouco por todo o lado. Tem sido assim que nos servem o menu do tipo agência de viagens do horror, eis-nos transportados para a Síria, Somália, Líbia, Sérvia, Palestina, Myanmar, Congo, Tchetchénia e tanto lugar onde se sobrevive e morre apenas, fruto de interesses obscuros, e sempre em nome da liberdade!
Como diz Mia Couto, «contra factos só há argumentos».
Como anda uma cruzada muito grande contra a exploração de lítio nas regiões onde quase ninguém vive, e como vejo a contestação e a fundamentação da maior parte de encarniçados defensores do ambiente e, a reboque, umas palavras de cátedra por parte de autarcas, fica a pergunta: Como vamos resolver os problemas do ambiente sem as baterias dos telemóveis, do armazenamento das centrais fotovoltaicas, das centrais eólicas, dos carros elétricos e tantas outras aplicações? Sabem, é que tudo isso é feito de lítio, e tem que se ir buscar onde o há!
Eu não sou contra a exploração de lítio, nem de qualquer outro minério que possa trazer riqueza a zonas despovoadas e sem atividade económica sustentada. Sou a favor desde que haja estudos de impacto ambientais sérios e independentes, e que as entidades fiscalizem o trabalho das concessionárias de forma continuada para salvaguardar o viver dos cidadãos nos territórios onde essas explorações irão inevitavelmente existir. A experiência não tem sido boa, daí justificados receios das gentes, por isso tem que se adequar a legislação e a punição de eventuais prevaricadores a uma intervenção maior por parte das autarquias e autoridades do ambiente. Aí o lítio e outros minerais passarão a ser uma mais-valia em territórios de baixa densidade e de parcos recursos económicos.
Estamos num período muito complicado, em que se fecharam as centrais a carvão, e bem, apesar de forma pouco prudente, e a fatura energética sobe porque as barragens que iriam produzir eletricidade estão nos mínimos de segurança. Importa-se matéria-prima fóssil a preços proibitivos que acabam por ter que ser exageradamente altos, com reflexos no tecido produtivo do país, e poluentes o suficiente para cada vez estarmos mais longe das metas traçadas para o controle de emissões de carbono para a atmosfera.
Pode parecer uma heresia, mas sou há muito defensor da energia do futuro, a nuclear. É a energia mais limpa, mais barata e a mais segura. Há no mundo 451 centrais em funcionamento e há 58 em construção, para além de projetos de quase mais de duas centenas. Até hoje houve problemas sérios em três centrais, todas por motivos diferentes e só Chernobyl por razões de tontearia política foi a que teve piores consequências.
Sei que muitos, dos poucos que me lêem, estarão surpreendidos com estas afirmações que servirão, pelo menos, para um debate de ontem, o futuro energético na região e a exploração dos recursos existentes!
Temos que nos deixar de meias verdades sobre estes e outros assuntos porque, como diz um provérbio chinês, “meia verdade é sempre uma mentira inteira”.

Sobre o autor

Fernando Pereira

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