Uma peça de fruta regulamentada é a imagem de uma sociedade acondicionada e modelada. Construir embalagens para carregar fruta produzida em sistemas de alta rentabilidade, com alteração de características básicas da sua existência – alterando a cor, a velocidade de desenvolvimento, a retirada da árvore, a densidade, o tempo de conservação, o paladar, obriga a uma estrutura de medicamentos, a uma sequência de fármacos que obviamente alteram as propriedades esperadas da tal peça de fruta que deveríamos levar à boca. Sabemos que reduzem a quantidade de vitamina, que aumentam o valor do açúcar, que ficam com maior duração na embalagem. Tudo isto se chama negócio agroalimentar. Associado a este negócio existe o do empacotamento. Não importa que se coloquem milhares de plásticos enrolando frutas, legumes e vegetais, e não contabilizamos a quantidade de papel que é feita para acondicionar, com fim atrativo, chamativo, as vendas de produtos mínimos. Uma maçã que pode valer ao produtor um cêntimo, mas será servida ao comprador com mais dois cêntimos de embalagens, ou uma camisa que vem numa caixa com imensos papéis. O grave está na quantidade de produtos que metemos à boca ao morder a maçã e na quantidade de lixo que produzimos ao desembrulhar a dita. A isto tudo que chamamos regulamentação devemos um momento de reflexão. Este é o caminho do negócio, o caminho do capitalismo desenfreado, o filho da estruturação de pensamento que nos conduziu à destruição do mínimo para entregar ao máximo. As mercearias pelos hipermercados, os consultórios pelas clínicas, as lojas da Baixa pelos centros comerciais. Esta é a matrix em que vivemos obnubilados, adaptando-nos a um caminho globalizado onde poucos controlam quase tudo.
Embalagens e Matrix
«O grave está na quantidade de produtos que metemos à boca ao morder a maçã e na quantidade de lixo que produzimos ao desembrulhar a dita»