Eleições autárquicas

“300 pessoas encheram o grande auditório do TMG e durante três horas fez-se política, exerceu-se cidadania, apresentaram-se e discutiram-se ideias e projetos, debateu-se o futuro da Guarda”

Entramos na reta final da campanha para as eleições autárquicas. Este é o mais vibrante período do calendário político. Os próximos dias são de grande envolvimento dos cidadãos numas eleições que vão ter mais de 70 mil candidatos em todo o país.
Num país centralizador e macrocéfalo, em que a regionalização constitucionalmente prevista e tantas vezes prometida, foi sempre adiada – a regionalização não será a panaceia para todos os problemas, mas também não pode ser combatida pelo medo absurdo aos custos, ao “tachismo” ou ao despesismo que existe nos muitos serviços centrais em Lisboa ou nos serviços desconcentrados, por quem não tem de prestar contas a ninguém. O municipalismo e a descentralização, promovidos especialmente nos últimos anos, ficam aquém do prometido e quase nunca têm associado o devido envelope financeiro. Porém, como dizia Valente de Oliveira, um euro investido localmente gera um retorno três vezes maior do que um euro investido pelo poder central – o poder local gere apenas cerca de 15% das receitas públicas (contra 25% da média europeia), e responde por mais de 40% do investimento público… No pós-troika as autarquias deram uma lição de administração e foram muito mais céleres na redução da dívida do que o Estado, foram mais assertivos na reorganização administrativa e deram o exemplo na resposta à pandemia, pela forma rápida e determinada como responderam às necessidades da população e promoveram a ajuda, primeiro, e a vacinação, depois. São as autarquias a primeira resposta à pobreza e são o apoio com que contam os mais débeis da sociedade. São o poder de proximidade e o único com que a maioria do território nacional pode contar. Porque se em campanha as caravanas percorrem todo o país, o resto do ano Portugal é Lisboa e o resto é paisagem…
Por isso, nesta festa da democracia que são as eleições autárquicas, devemos aplaudir todos os que participam no processo eleitoral. As centenas de candidatos que nas nossas aldeias, vilas e cidades acreditam poder contribuir com a sua disponibilidade, interesse, desempenho, capacidade ou ideias são a base da democracia e da vida política local.
Precisamente neste contexto, organizámos (O INTERIOR e Rádio Altitude) um debate com os sete candidatos à presidência da Câmara da Guarda. Para além da importância e complexidade de organização que um evento com aquelas caraterísticas implica, acrescidas dos constrangimentos que a pandemia impõe, ousámos discutir com todos os candidatos as suas propostas na presença da população. Trezentas pessoas encheram o grande auditório do TMG e durante três horas fez-se política, exerceu-se cidadania, apresentaram-se e discutiram-se ideias e projetos, debateu-se o futuro da Guarda. E percebeu-se melhor o carácter, a índole, o génio, a capacidade e qualidade distintiva de cada um – não há nada melhor que um debate público para compreender a mensagem e sentir o cunho, a firmeza ou a dignidade de um candidato. Por isso, foi um grande debate – seguido por milhares de pessoas (além das 300 pessoas que encheram o TMG, foi seguido em direto por mais de mil pessoas nas plataformas digitais de ointerior.pt e altitude.fm e acompanhado pela vasta audiência da Rádio Altitude – e, entretanto, foi visto posteriormente por milhares de pessoas).
PS: Há 20 anos, organizámos e moderei um debate similar, no auditório do IPG, (os candidatos eram então Maria do Carmo Borges, Ana Manso, Eduardo Espírito Santo e os saudosos Pereira da Silva e José Costa). No final, agradeci aos presentes e “prometi” não voltar a meter-me na aventura de fazer debates públicos com candidatos à autarquia. Entretanto, fiz outros. Nomeadamente, em 2013, coorganizei com o Nerga o jantar-debate para discutir não apenas o futuro da Guarda, mas da região, com a criação das Comunidades e a presença de muitas personalidades, de Carlos Pinto, então edil da Covilhã, a Álvaro Amaro, que presidia à Câmara de Gouveia e aproveitou para lançar com sucesso a sua candidatura à Câmara da Guarda – é com sentido de dever e afirmação da liberdade de opinião que considero de enorme importância debater o futuro da Guarda com todos os candidatos à Câmara da Guarda; lamentamos não ter condições, meios e recursos, para poder fazer debates, como este, em todos os concelhos do distrito da Guarda, as populações mereciam e os candidatos também… vamos tentar em próximas eleições!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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