A Europa, toda ela, está com os olhos postos em Espanha. Portugal, dada a vizinhança e o parceiro comercial que efetivamente é, muito mais. No próximo domingo o país dos sete povos, das sete línguas, vai a votos.
Segundo as sondagens, o Partido Popular pode vencer as eleições e obter 145 escaños. O PSOE ficará pelos 140 deputados enquanto o Vox poderá ser o terceiro partido mais votado chegando aos 35 parlamentares, seguido do Sumar (coligação de 15 partidos da vice-presidente Yolanda Diaz) que obterá no máximo 30 deputados.
A ser verdade, e a acreditar nas sondagens, o PP irá governar e eis aqui o grande dilema para Espanha e para a Europa. As Cortes são constituídas por 350 deputados. O PP, com os seus 145, necessitará obrigatoriamente de Suas Senhorias do Vox para constituir maioria absoluta. Feijóo será eleito presidente do Governo, mas isso vai obriga-lo a ficar refém e a ceder a inúmeras exigências feitas por Abascal, que terá de levar para o Governo, e a essa coisa que de todo se parece com o escarro que a democracia deixou parir aqui neste cantinho à beira mar plantado.
O debate da passada semana entre Pedro Sánchez e Alberto Feijóo não trouxe nada de novo. Infelizmente, estamos a assistir a uma campanha vazia de ideias, promessas estapafúrdias, ataques pessoais, ódios repletos de acusações e provocações. Muito feio o que se está a passar nesta campanha eleitoral. Muito feio… mesmo.
Se as sondagens estiverem certas (oxalá não), logo que chegue ao poder, a direta irá rever a lei laboral, a lei da habitação, o imposto sobre a banca e sector energético, o imposto sobre as grandes fortunas, numa altura em que o PIB é de 1,9% e a reforma passa dos 1.180 para os 1.300 euros e aqui sim, percebe-se a preocupação de todos os organismos europeus, pois Espanha detém atualmente e até final do ano a presidência do Conselho Europeu podendo por em causa uma série de diplomas e orientações que estão em cima da mesa.
Para além disso PP + Vox irão acabar com o Ministério da Igualdade, entregar cheques a cada aluno para assim poderem escolher a escola a frequentar, fazer múltiplos acordos com o sector privado na área da saúde tentando desta forma destruir a escola pública e o serviço público de saúde.
Nesta revogação de leis seguem-se a proibição da eutanásia, do aborto e a censura regressa, tal qual já acontece nalgumas regiões onde a coligação de direita governa, acabando com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, onde todas as minorias serão sistematicamente marginalizadas numa visível contestação aos direitos da comunidade LGBT.
E se em Espanha pode ser assim, curiosamente em Portugal já o é. Numa decisão autoritária do Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto, a marcha do orgulho tentou ser camuflada e descentralizada. Como se houvesse necessidade de autorização do exmo. reizinho tripeiro.
Já agora: consta-se nalguns sectores laranjíferos que esta personagem poderá ser cabeça de lista do PSD às europeias de junho do próximo ano. Não basta a rebaldaria no grupo parlamentar e a falta de jeito e de liderança, como bonito vai ser ver mais um tirinho nos pés e no cartaz de necessidade de afirmação “Consigo” – Montenegro.
Regressando ao tema de hoje, aquilo que se pede aos eleitores espanhóis, falem eles Castelhano, Catalão, Basco, Galego, Aranês, Asturiano ou Aragonêz é serenidade e reflexão necessárias não se deixando ir no facilitismo, na conversa da treta ou no canto de sereia dos autênticos lobos vestindo roupagens, só até domingo, de pele de cordeiro, pois o que está verdadeiramente em causa, no caso de uma maioria da direita e extrema-direita, é um ataque à tolerância, à pluralidade, à diferença num retrocesso civilizacional só visto no tempo da Falange e do Franquismo. A Democracia, em Espanha, pode estar em perigo passando de uma democracia plena para uma coisa muito diferente, muito musculada.
Se é verdade que as sondagens valem o que valem (exemplo disso as últimas legislativas em Portugal – todas se enganaram e o PS obteve maioria absoluta), oxalá em Espanha aconteça precisamente o mesmo. Isto para bem de todos. Para bem da Democracia.
El tiempo de nuestros hermanos
“Nesta revogação de leis seguem-se a proibição da eutanásia, do aborto e a censura regressa, tal qual já acontece nalgumas regiões onde a coligação de direita governa, acabando com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, onde todas as minorias serão sistematicamente marginalizadas numa visível contestação aos direitos da comunidade LGBT. “