Eduardo Lourenço e Carvalho Rodrigues

Escrito por Acácio Pereira

«Vale a pena, para gerações de jovens que não têm memória dos anos 90, falar no valor do exemplo deste homem»

«Ainda vivo, Eduardo Lourenço já fazia parte da mitologia desta cidade», escreveu numa nota de pesar a 1 de dezembro, quando o grande filósofo morreu, o presidente do Instituto Politécnico da Guarda, Joaquim Brigas.

Escreveu bem: apesar de genericamente alheada do percurso académico, filosófico e ensaísta de Eduardo Lourenço até ao final do século XX, a Guarda despertou para a real dimensão desse seu quase filho (Eduardo Lourenço nasceu em S. Pedro de Rio Seco, Almeida) e, já em 1999, convidou-o para falar na sessão comemorativa do VIII Centenário do Foral da Guarda.

Nessa alocução, Eduardo Lourenço aludiu às virtudes de ser criado na Guarda um Centro de Estudos Ibéricos e, não só esse centro foi avante, como a Biblioteca Municipal foi batizada com o seu nome. A partir daí, e enquanto teve saúde e vigor, o filósofo regressou à Guarda inúmeras vezes e enriqueceu-a sempre com os dons do seu pensamento e da sua palavra. E a Guarda pode prestar-lhe, em tempo útil, o seu preito e a sua homenagem – e dedicar-lhe a sua estima.

Se lembro este exemplo – este bom exemplo – é porque, na minha modesta opinião, está na hora de fazer o mesmo pelo físico Fernando Carvalho Rodrigues, cientista, professor universitário e inventor, conhecido por ser o pai do primeiro (e único) satélite português – o Po-SAT-1 –, lançado para o espaço em 26 de setembro de 1993.

Uma declaração de interesses: sou amigo, e admirador, do Prof. Carvalho Rodrigues.

Não vale a pena falar da sua importância na história recente da ciência em Portugal, porque essa todos lhe reconhecem. Mas vale a pena, para gerações de jovens que não têm memória dos anos 90, falar no valor do exemplo deste homem que nasceu em 1947 em Casal de Cinza, concelho da Guarda: licenciou-se em Física em Lisboa e doutorou-se em Engenharia Eletrónica na Universidade de Liverpool em 1974; aos 38 anos, era Professor Catedrático no Instituto Superior Técnico.

Carvalho Rodrigues nasceu na Guarda e, de há anos a esta parte, reside na Guarda. Com o seu ar de grande tenor italiano, tantas vezes confundido com Luciano Pavarotti, Carvalho Rodrigues é maior do que esta cidade. E, tal como Eduardo Lourenço, tem disponibilidade e gosto para puxar por ela, sobretudo nas matérias que tenham a ver com ciência, com tecnologia e – sobretudo – com inovação.

Carvalho Rodrigues merece que a Guarda lhe reconheça a carreira e a importância do seu contributo para a ciência contemporânea. E a Guarda precisa que Carvalho Rodrigues lhe empreste a sua luz e que puxe por ela. Quem faz este “match”?

 

Acácio Pereira
Dirigente sindical

Sobre o autor

Acácio Pereira

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