O Zé anda entusiasmado! O Natal é mesmo a época propícia para fazer aquilo que o Zé mais gosta: a festa!
Luzinhas, cor, música, tendas, animação, muita festa, tudo aquilo que o Povo adora. O Zé esfrega as mãos, vai haver mais publicidade, mais propaganda, artistas e muitas contratações!
O Zé anda tão entretido que não lhe sobra tempo para ver os domínios onde a sua ação seria mais meritória. Com tanta festa, apetece-lhe até ralhar com a realidade! Ele sabe que a festa tira importância às coisas, deixa o Povo contente e desatento.
Já aprendeu e diz, repetidamente, que o que se não deixa dizer, nem lhe dizem, não existe, presumindo ainda que a maneira de dizer pode sempre alterar os factos como quiser.
Por insuficiência de análise da realidade, descansa na obsessiva liberdade semântica que usa e abusa e, num olhar atento, que raras vezes é amigo. O Zé faz tantas festas que só espera dos outros o aplauso, o pasmo e a reverência.
Suspeita-se até que o seu pensamento lhe leva por vezes a supor que a coisa pública lhe deveria, já, ser entregue em propriedade. É assim que age, despreocupado, no uso e abuso da coisa pública.
Ou pelo menos pensa, atrevidamente, com uma corajosa falta de humildade, que já fez história onde se possa deitar. Ora, a ilusão e o descanso sem motivo é mortal para os Povos. Povos desatentos e iludidos pela cor da luz não sabem a condição do progresso.
A festa foi bonita, pá? E o que fica, do que se gasta, depois da festa? O que deixamos para as gerações futuras, que não puderam viver a festa?
* Ex-líder da Distrital do PSD da Guarda e antigo presidente da Câmara de Trancoso