Na semana passada publicámos o ranking das maiores empresas da Beira Interior que, sem surpresa, confirmava a relevância da Coficab não apenas como entidade com maior volume de negócios em 2018 (os dados oficiais mais atuais) como a maior exportadora da região. Com 235 milhões de vendas e um crescimento assegurado, e para o qual muito irá contribuir a nova unidade na PLIE, a Coficab arrisca-se a ser uma exceção num interior deprimido e sem expetativas.
No ranking das 50 maiores empresas do distrito da Guarda encontramos em 5º lugar a Dura Automotive com um volume de negócios de quase 50 milhões de euros em 2018 e mais de 400 trabalhadores. A empresa de Vila Cortês do Mondego era ainda um baluarte na economia regional e uma certeza na relevância industrial do concelho da Guarda. Mas, todos o sabiam, na Dura não havia otimismo. A empresa tinha capacidade para crescer, mas o contexto internacional, as dificuldades do grupo nos Estados Unidos e a falta de novos projetos anunciavam um definhar latente já em 2018. Entretanto, aquilo que eram nuvens a passar sobre a cabeça de centenas de famílias cujo emprego, e vida, dependia há dezenas de anos da “velha” Femsa foram-se adensando com despedimentos, prejuízos e falta de trabalho.
Hoje, a Dura tem uma centena de trabalhadores, metade em formação (para manter ocupadas as pessoas), e espera as decisões do grupo, que pode apresentar um pedido de insolvência em breve. Ou pode ser vendida e resgatada da agonia.
Não é a primeira vez que o complexo industrial vive momentos de clamor e angústia, mas o pessimismo sobre o desenlace de mais uma crise na unidade fabril nunca foi tão dramático. O fim está à vista…
A Femsa foi um ícone da indústria regional, um grande empregador no concelho da Guarda e casa de milhares de pessoas que deram a vida pela empresa. Os tempos da Bosch deram brilho ao sonho de que a fábrica tinha futuro e assegurava emprego a novas gerações. A Dura Automotive chegou depois com ambição e os trabalhadores, otimistas, acreditavam que haveria trabalho por muitos anos no Vale do Mondego. Mas os dois últimos anos confirmaram que o sucesso é efémero e que o bom desempenho de anos anteriores não assegura o futuro. Em novembro passado, quando foi anunciado o despedimento de 66 trabalhadores, os que ficavam iriam perder condições contratuais na convicção de que o trabalho ficava assegurado por dois anos, pelo menos. A decisão foi entretanto suspensa e a incógnita sobre o futuro é hoje um dado adquirido. Se a Dura não for vendida e não houver um novo projeto industrial para o complexo, será o fim de uma das referências empresariais da Guarda e mais um prego no caixão do despovoamento da região, porque as centenas de pessoas que foram saindo daquela fábrica ou se reformaram ou partiram (ou terão de partir).
Quando esperamos por medidas que promovam o emprego no interior, e enquanto assistimos ao debate político sobre o impacto dos apoios aos territórios de baixa densidade, assistimos à realidade. E a realidade é sempre muito mais dura e difícil do que a narrativa pode descrever. Sem trabalho e sem empresas não há futuro. Muito mais do que promessas, as pessoas necessitam de presente, de dinheiro para pagar as contas, para alimentar os filhos, para viver com dignidade. É urgente atrair novos investimentos e estimular a economia local; é urgente receber investimentos públicos e assegurar novos empregos que permitam às pessoas ficar no interior.