Assinalar os três momentos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial pode revelar-se uma tarefa bastante complicada, todavia, o lançamento, por parte dos Estados Unido da América, de duas bombas atómicas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki deverá constar na lista desses momentos para muitos cidadãos.
O lançamento destas duas bombas foi o culminar do “Projeto Manhattan” liderados pelos Estados Unidos, do qual fizeram parte o Reino Unido e o Canadá. O desígnio final deste projeto, que surge a partir de uma carta de Albert Einstein ao presidente Roosevelt avisando-o de que a energia libertada pela fissão nuclear podia ser utilizada pelos alemães para a produção de bombas, era o desenvolvimento da primeira bomba atómica. Após uma frenética corrida que durou 2 anos, 3 meses e 16 dias, na qual o “Projeto Manhattan” prevaleceu sobre o “Projeto Urânio” da Alemanha, que tentava lograr o mesmo fim, a 16 de julho de 1945 teve lugar, em Alamogordo (Novo México), o bem-sucedido teste “Trinity”.
Poucos dias mais tarde, duas bombas batizadas como “Little Boy” e “Fat Man” foram detonadas, respetivamente, sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki. A “Little Boy” baseava-se no U-235, um isótopo bastante raro que tem de ser separado do isótopo comum de urânio, o U-238, que não é adequado para o fabrico de bombas atómicas. Já a bomba “Fat Man” usava o plutónio do isótopo Pu-239. Isótopos são átomos de um mesmo elemento químico cujos núcleos têm igual número atómico (número de protões no núcleo) e diferente número de massa (soma dos neutrões e protões do núcleo). Os diferentes isótopos de um elemento químico diferem, pois, do número de neutrões.
Na maior parte dos livros de História pode ler-se que participaram no “Projeto Manhattan” cientistas da dimensão de Oppenheimer, Niels Bohr, Enrico Fermi, Ernest Lawrence, Luís Walter Álvarez, Hans Bethe ou John von Neumann, entre muitos outros. Contudo, poucas vezes se dá destaque a um dos maiores cientistas da história: o físico atómico e nuclear americano Glenn Seaborg. O seu papel era claro: colaborar no desenho da bomba que foi lançada sobre Hiroxima. Concretamente, Seaborg e os seus colaboradores produziram plutónio-239 em quantidade suficiente para produzir a “Fat Man”.
Findo o “Projeto Manhattan”, regressa à universidade onde teve colaboração na descoberta de mais de dez elementos químicos, entre os quais o califórnio, einsténio, férmio, nobélio ou seabórgio.
Este físico teve um papel fundamental na descoberta do iodo-131 (I-131). O radioisótopo I-131 é um isótopo radioativo do iodo que resulta da fissão nuclear do urânio e do plutónio e que se revelou tremendamente eficaz no tratamento do cancro da tiroide. A utilização do I-131 tem uma história curiosa e inspiradora. Uma das primeiras pessoas afetadas pelo cancro da tiroide a beneficiar do iodo radioativo foi a mãe de Gleen Seaborg! Anos após a descoberta, foi diagnosticado à sua mãe cancro da tiroide que foi curado devido à investigação do filho.
A física ou a química, tal como as restantes disciplinas científicas, não são “más” nem “boas”. Tudo depende do uso que lhes é dado. Os mesmos princípios científicos que podem desencadear catástrofes à escala mundial servem para salvar a vida de milhões de pessoas. A última palavra é do Homem.
Duas faces da mesma Ciência
“Após uma frenética corrida que durou 2 anos, 3 meses e 16 dias, na qual o “Projeto Manhattan” prevaleceu sobre o “Projeto Urânio” da Alemanha, que tentava lograr o mesmo fim, a 16 de julho de 1945 teve lugar, em Alamogordo (Novo México), o bem-sucedido teste “Trinity”.”