Doentes reumáticos em tempos de Covid-19

Escrito por Inês Seixas

A pandemia causada pelo novo coronavírus tem vindo a causar um grande impacto nas nossas vidas. A gravidade desta doença varia conforme a idade e a presença de outras doenças. Pessoas com idade avançada, doenças crónicas e sistema imunitário debilitado podem ter maior risco de desenvolver complicações.

No caso particular da população de doentes reumáticos vários estudos têm sido desenvolvidos neste contexto de pandemia, de forma a aferir se é maior a probabilidade destes doentes terem um risco acrescido de infeção ou de maior gravidade pela doença Covid-19. Esta hipótese assenta, em especial, na alteração do sistema imunitário subjacente à doença reumática e no uso de fármacos imunossupressores (que reduzem a resposta do sistema imunitário).

O maior estudo, até agora, em doentes reumáticos envolveu 600 indivíduos. O seu objetivo principal foi identificar os fatores de risco que estão associados a uma maior gravidade da doença Covid-19. Assim, a presença de hipertensão arterial, doença pulmonar, diabetes e doença renal associaram-se a uma maior probabilidade de hospitalização. Relativamente à medicação, doses moderadas a altas de corticoides associaram-se também a maior taxa de hospitalização.

No que se refere a outros fármacos (metotrexato, leflonomida, salazopirina e biológicos), os dados foram tranquilizadores, uma vez que nenhum deles se associou a doença mais grave ou probabilidade maior de hospitalização. Deste modo, os fatores de risco para hospitalização de doentes reumáticos devido à Covid-19 foram sobreponíveis àqueles que foram identificados na população em geral.

Relativamente à experiência do confinamento destes doentes, um estudo em doentes com artrite reumatoide concluiu que cerca de 40% referiu agravamento dos sintomas durante este período (dor, rigidez articular e inchaço). Os fatores para este agravamento foram a menor mobilidade, redução de atividade física e a diminuição ou suspensão da medicação. Mais de metade dos doentes referiu desenvolvimento ou agravamento de sintomas de ansiedade e depressão. Concluiu ainda que cerca de 14% dos envolvidos suspendeu ou reduziu a dose ou a frequência da toma da sua medicação.

Importa salientar que a decisão de alterar ou suspender a medicação deve ser partilhada entre médico e doente. É também importante alertar para o cumprimento da vacinação, particularmente a vacina da gripe e antipneumocócica, dado que uma percentagem das infeções graves por Covid-19 complicam-se com sobre-infeções.

É de realçar ainda a importância de um acompanhamento regular pelo seu reumatologista assistente. As consultas de rotina, que são realizadas segundo as normas de segurança, evitam um agravamento da doença e respetivas consequências pelo que devem continuar a ser realizadas. Pode também optar por realizar uma teleconsulta, sempre que a observação/opinião médica não necessite de exame físico ou quando a situação clínica se encontra estável, sem sinais de alarme e quando é possível a discussão clínica via telefónica.

Reumatologista no Hospital CUF Viseu

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Inês Seixas

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