Do paradigma McDonalds ao “Doençapp” (parte 2)

Escrito por Diogo Cabrita

O paradigma McDonalds é uma construção com base na ideia de substituição de lideranças por normas e codificações. Se um líder tiver fronteiras estritas de funcionamento pode ser reduzida a influência do seu ministério pois o entorno corrige os seus defeitos. Na minha vida sempre percebi que liderar está na dependência da qualidade dos responsáveis e o seu exemplo é uma trave mestra da qualidade dos serviços que norteiam. Leiam “Liderar” de Rudolph Giuliani sem os preconceitos de ele ter sido republicano.
O paradigma que tem associado o empacotamento, a codificação, a obsessão das instituições e das leis reguladoras por vez de uma avaliação de resultados trouxe a cada ato médico uma criação de lixo quer em plásticos e cartão, quer em informática. É também este um caminho com os dias contados. Kenneth White em “Le Plateau de L’Álbatroz” (2018) elabora um precioso discurso de como o homem dono da natureza (cartesiano) tem de ser substituído pelo homem integrado na natureza e que, portanto, reduz a pegada ecológica (mede a superfície necessária para produzir os recursos consumidos pela população, bem como para absorver os desperdícios que produz). O novo serviço de saúde tem de reutilizar, tem de reduzir o lixo – afinal o desperdício, tem de reciclar, abandonando a imposição das exigências dos políticos atuais em prol de uma indústria gananciosa e de uma economia de favores e de construção de verdades que a todos nos enganam. Tenho referido muitas vezes Clément Rosset a propósito da política que constrói discursos que nos dão uma visão falsa da realidade para projetar um desígnio desnecessário com um fim lucrativo algures. Nada melhor como motor da sociedade que «a alegria que é ilógica e irracional» e no entanto… Veja-se a perseguição aos hospitais PPP e o silêncio sobre a calamidade CHUC ou Santa Maria.
Infelizmente a própria opção pelo caminho em saúde passa por um conjunto de discursos politicamente corretos que deviam ser comprovadas estatisticamente e por avaliações de larga escala como os graus de evidência que suportam decisões em Medicina. Temos decisões constantes que são fruto de espíritos ideológicos de um paradigma anterior à existência de internet, de globalização da informação e sobretudo de ausência da perceção de que o ontem carregado numa tecla é um agora nos sistemas de comunicação e de relação. O filtro do conhecimento é, pois, mais complexo e a desinformação, a construção das falsidades torna-se um espaço do real. A própria mentira é agora um momento de debate como se fosse mercadoria. Falaram da apoteose do presente Domingo Hernandez Sanchez, da ditadura do politicamente correto Félix Duque e da importância de reflexão antes de decidir Daniel Innerarity. Eu não saberia discursar melhor que eles. Exemplos destas verdades construídas são «o público é melhor que o privado», «a exclusividade resolve a falta de meios», «os mecanismos de triagem como Manchester não têm alternativa», «as compras centralizadas de produtos tornam mais eficiente e mais barata as aquisições» dos sistemas públicos, «a concentração é sempre melhor que o “small is beautifull”». Nada disto foi provado com verificações repetíveis, instrumentos de medição credíveis.

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Diogo Cabrita

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