Chegou o Verão. Bem sei que o leitor super-informado está ciente desse facto, mas esta coluna não se notabilizou propriamente por dar notícias em primeira mão. Às vezes referem-se notícias, mas sempre em segunda mão, como os estacionamentos, ou em contramão, como os ingleses. Muitas vezes, o fresco da informação é aqui tratado com uma segunda demão, e quase sempre borrando a pintura. O que interessa é que o leitor tenha à mão – que pode muito bem ser de semear – pedaços do mundo que, como dizia a velha canção, temos na mão, juntos, porque tu sozinho não és nada. Esquece-se, no entanto, tal canção que é precisamente a mão que pode contribuir para alívio temporário da solidão.
Perguntar-se-á o leitor, sempre muito empertigado no que respeita a fazer questões, mas pouco lesto a vir aqui respondê-las, deixando por isso o fardo todo em cima do colunista, que por acaso, neste bocado da página, calha ser eu, por que razão se gastou um parágrafo com metáforas popularuchas sobre mãos. Há duas respostas. A primeira é: porque posso. Sendo um espaço livre de opinião, é para ser preenchido com o que me apetecer. Pode ser a dizer mal do Governo, a maldizer o país, ou com cantigas de escárnio sobre qualquer assunto que a psique escolha nessa semana. Canções de amigo, provavelmente, aqui não se encontrarão. A segunda é: porque desde que o Euro começou só surgiram histórias de cunhas, privilégios, escutas, negociatas e a vontade de António Costa ser presidente do Conselho. Ou seja, nada de novo e às vezes já cansam vinte anos a falar do mesmo.
Ainda assim, e como ainda há um parágrafo para preencher, alongo-me sobre o desejo de António Costa ser Presidente do Conselho. Saliento que Portugal já teve durante muitos anos um outro António como Presidente do Conselho. É verdade que este António, o de agora, poderá ser Presidente do Conselho diferente do outro Conselho a que presidia o outro António. Mas salientar semelhanças, mesmo que imbuídas de palermice, é um desígnio desta coluna que o leitor sabe sempre com que pode contar.
Por isso mesmo, termino salientando que Costa vai de Portugal representando o partido da mão fechada com o apoio do Governo de Portugal de mão estendida. Espera-se que o antigo primeiro-ministro dê uma mãozinha, sempre que Portugal se vir na contingência de encontrar uma mão aberta à espera de se fechar.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia